Itamaraty deve convocar chefe da embaixada dos EUA após críticas a Alexandre de Moraes

Brasília, 8 de agosto de 2025 — O Ministério das Relações Exteriores do Brasil prepara-se para convocar novamente Gabriel Escobar, chefe da embaixada dos Estados Unidos no País, em uma nova manifestação oficial de repreensão. A medida vem em resposta a declarações recentes da representação diplomática americana que criticam publicamente o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Na quinta-feira, 7, a embaixada americana, liderada por Escobar, publicou uma mensagem em que atribui ao ministro do STF práticas de censura, perseguição política e violações de direitos humanos. Tais acusações são especialmente graves, pois mencionam as sanções da Lei Magnitsky aplicadas a Moraes, que restringem seu acesso aos Estados Unidos, congelam seus bens e bloqueiam seu contato com empresas americanas.

Acusações e contexto

A publicação da embaixada reproduziu uma mensagem do subsecretário para Diplomacia Pública dos EUA, Darren Beattie, que também denunciou a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro e cobrou a liberdade de expressão do político, afirmando: “Deixem Bolsonaro falar”. Além disso, Christopher Landau, secretário adjunto de Estado norte-americano, utilizou sua conta no X para denunciar o que classificou como “ditadura do judiciário” no Brasil.

A iniciativa americana de sancionar Moraes é inédita no país e segue um padrão global do uso da Lei Magnitsky contra indivíduos acusados de graves violações de direitos humanos, ditadores e criminosos. No caso brasileiro, as restrições foram uma resposta à atuação do ministro no processo penal relacionado à tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022, em que Bolsonaro é réu, bem como a decisões relativas ao controle das redes sociais.

Além de Moraes, outros sete ministros do STF tiveram vistos americanos cassados. Paralelamente, o governo dos EUA impôs uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, numa estratégia de pressão econômica.

Reação do Itamaraty

Embora reconheça que a embaixada americana atua sob ordens de Washington, o Itamaraty considera as publicações e declarações como “intromissões” inaceitáveis em assuntos internos do Brasil, contrariando as normas diplomáticas vigentes. Por isso, prepara a convocação oficial do encarregado de negócios Gabriel Escobar para que preste esclarecimentos.

Esta será a quarta convocação de Escobar desde o início do governo Trump. As anteriores trataram de temas como a deportação de imigrantes, manifestações políticas e o anúncio do tarifaço americano.

Até o momento, Escobar ainda não foi recebido pelo chanceler Mauro Vieira, mas manteve diálogo com a secretária de Europa e América do Norte, Maria Luiza Escorel, e recentemente com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.

Perspectivas

A nova convocação sinaliza uma escalada nas tensões diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos, que refletem diferenças políticas e jurídicas profundas. A postura do Itamaraty demonstra a disposição do governo brasileiro em defender sua soberania e criticar eventuais interferências externas, ainda que por meio dos canais formais da diplomacia.