Governador de São Paulo defende fortalecimento das Forças Armadas e alerta para conexões entre narcotráfico e segurança global
Durante sua participação no Fórum Jurídico de Lisboa — evento que reúne autoridades do Judiciário, Executivo e especialistas em políticas públicas — o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), lançou um alerta: o maior risco enfrentado pelo Brasil hoje não é fiscal, mas sim o avanço do crime organizado.
“O risco fiscal talvez seja o menos importante, porque se sabe como resolvê-lo. O maior risco é o crime organizado. Isso é um risco global”, declarou Tarcísio.
A fala repercutiu amplamente no evento, apelidado informalmente de “Gilmarpalooza” em referência ao ministro Gilmar Mendes, organizador do encontro.
Forças Armadas como chave contra o narcotráfico
O governador destacou que o Brasil precisa estruturar suas Forças Armadas para lidar com os desafios contemporâneos da segurança, sobretudo a infiltração do narcotráfico em negócios lícitos, o que, segundo ele, afasta a competitividade e destrói empresas que atuam dentro da legalidade.
“Guarnecer as fronteiras significa ter condição de combater o crime organizado. Equipar nossas forças, investir em tecnologia de ponta, é fundamental para vencer essa guerra”, reforçou.
Tarcísio lembrou que o país tem fronteiras secas extensas e uma longa faixa litorânea, o que exige atenção redobrada para evitar vulnerabilidades.
Questão fiscal é resolvível, diz governador
Na avaliação do governador paulista, o risco fiscal do Brasil é conhecido e administrável. Tarcísio afirmou que as bases econômicas do país são sólidas, resultado de reformas recentes, e que ajustes são viáveis.
Ele mencionou que, para reequilibrar a economia, basta acionar “alavancas já conhecidas”, como atrair capital estrangeiro, valorizar o câmbio, reduzir inflação e juros, e retomar investimentos públicos e privados.
Brasil pode “surfar a onda” das incertezas globais
Para além dos desafios internos, Tarcísio enxerga no cenário internacional uma janela de oportunidades. Em meio à transição energética, insegurança alimentar e reconfiguração das cadeias globais, o Brasil — segundo ele — pode se posicionar como parceiro estratégico.
“Se o mundo precisa de parceiros confiáveis na segurança alimentar, energética e no conhecimento, estamos nós aqui”, afirmou.
Ele citou o redesenho energético da Europa após o corte do gás russo como exemplo de como o Brasil pode cooperar com o mundo, especialmente em sustentabilidade e inovação.
“Desglobalização” e vocações estratégicas brasileiras
Tarcísio defendeu que o país aproveite o movimento de desglobalização para investir em suas vocações naturais, como a biotecnologia, a economia do conhecimento e a transição energética.
“Se a gente canalizar energia para aquilo que são nossas vocações, temos condições de nos destacar nas relações com China e Estados Unidos”, pontuou.
Para isso, ele reforça que a diplomacia brasileira deve seguir pautada pela neutralidade e pelo interesse nacional, mantendo equilíbrio entre grandes potências.
Preocupação com a fragilidade democrática de parceiros do Sul Global
O governador também manifestou preocupação com o alinhamento do Brasil a países com baixa estabilidade democrática. Segundo ele, essa aproximação pode afastar investidores internacionais e limitar o acesso a mercados mais exigentes.
“Ao se alinhar a países que não seguem práticas recomendadas pela OCDE, o Brasil se distancia de uma parcela relevante de investimentos”, alertou.
Declínio de organismos multilaterais também é motivo de atenção
Tarcísio finalizou suas observações demonstrando inquietação com a perda de relevância de instituições como a ONU e a OMC, especialmente em um mundo que ele classifica como de “unimultipolaridade” — onde os Estados Unidos mantêm hegemonia militar, mas outras potências disputam espaço em esferas econômicas e diplomáticas.
Conclusão: fortalecer a defesa e buscar protagonismo global
Ao longo de sua fala, Tarcísio de Freitas desenhou um panorama onde o Brasil tem fragilidades, mas também oportunidades históricas. O segredo, segundo ele, está em estruturar a defesa, preservar a democracia, equilibrar as contas públicas e investir nas vocações estratégicas do país.
Foto: Pablo Jacob/Governo do Estado de SP