Mãe tenta reaver na Justiça filha que entregou para casal gay, no DF

‘Adoção’ foi feita de maneira ilegal; mulher diz que entregou bebê após ficar em situação de vulnerabilidade e ser expulsa de casa. Caso tramita na Justiça há um ano e meio.

Uma mulher tenta, na Justiça, reaver a filha que entregou em adoção, de maneira irregular, para um casal homossexual, há um ano e meio, em Brasília. A jovem, que prefere anonimato, contou à TV Globo, que quando engravidou os pais a expulsaram de casa, no interior do estado de Goiás.

Segundo ela, em desespero, começou a usar drogas e diz que aceitou os conselhos de uma amiga para fazer uma “adoção à brasileira”, ou seja, entregar diretamente o bebê, sem passar pelo Juizado da Infância e Juventude, e ainda recebendo benefícios materiais do casal interessado.



“Eu, desesperada já, no fundo do buraco, eu conversando com uma amiga minha, ela falou assim: Olha, você quer realmente dar? Eu falei: Eu quero, porque é a única opção que eu tenho no momento. Eu não tenho irmãos, eu não tenho parente, não tenho nada, a não ser minha mãe e meu pai, e eles não querem”, diz a jovem.

O homem, que registrou a criança como filha biológica, e está com o bebê desde o nascimento, não quis falar sobre o caso. Ele disse à TV Globo que o processo está em segredo de Justiça.

Acordo para entrega do bebê

A jovem conta que, ao conhecer o homem interessado em ficar com o bebê, confirmou que tinha interesse em entregar a criança assim que ela nascesse, e “fez um acordo”. O homem alugou uma casa para a gestante em Ceilândia, no DF.

Ele bancou alimentação e assistência médica, além de entregar R$ 3 mil para ela. O acordo foi que, após o parto, a mulher iria embora e ele e o marido ficariam com a criança.

“Eu falei que realmente queria dar, porque naquele momento eu não teria condições. Eu estava muito abalada”, diz a mulher.

Porém, no dia do nascimento, a mãe biológica diz que, ao pegar a filha no colo, “tudo mudou”. Ao ver a menina, ela desistiu de entregar a filha.

” Eu me arrependi muito, e por isso que hoje eu tô lutando pra ter ela de volta. Então, independente do que eu fiz ou deixei de fazer, ela tem que estar comigo”, afirma.

‘Guarda unilateral’

Documento fala em 'guarda unilateral' de bebê entregue por mãe em adoção à brasileira, no DF — Foto: TV Globo/Reprodução
Documento fala em ‘guarda unilateral’ de bebê entregue por mãe em adoção à brasileira, no DF — Foto: TV Globo/Reprodução

A mulher diz que o homem para quem entregou a bebê registrou a criança como filha biológica dele, e elaborou um documento para que ela assinasse. No papel, estava escrito que os dois haviam tido um “breve relacionamento”, mas que ela estava com “dificuldade” em aceitar o bebê, portanto, concordava em conceder a guarda unilateral ao “genitor”.

Segundo a advogada Cíntia Cecílio, especialista em direito da família, o documento de guarda unilateral só é válido com decisão da Vara da Infância e da Juventude (VIJ), o que não ocorreu. Ela também chama a atenção para o fato de que o homem não poderia registrar a criança como filha biológica.

Cecílio diz que a mulher pode ter a filha de volta porque o processo de adoção não foi feito em conformidade com a lei. Além disso, a especialista afirma que é preciso levar em consideração as alterações hormonais que ocorrem durante o puerpério.

“Ocorre aí todo um processo pra verificação do caso específico (…) Então, ela numa situação de desespero, concorda com aquela situação e, depois, ela cai em si e decide que não quer [doar]. Ela tem todo o direito de buscar a guarda da filha dela, o retorno dessa guarda e o convívio com essa criança”, diz a advogada.