Anúncio de sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros reacende debate sobre preparo das pequenas e médias empresas diante de riscos globais e entraves internos
O anúncio feito na última semana por Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, de que aplicará uma tarifa de 50% sobre todas as importações brasileiras a partir de 1º de agosto, provocou um alerta vermelho entre empresas exportadoras — mas também reacendeu um problema estrutural do lado oposto da balança comercial: as pequenas e médias empresas (PMEs) brasileiras que dependem da importação para manter seus negócios.
Na avaliação de Rodolfo Midea, CEO da Fácil Negócio Importação, a medida de Trump é um gatilho político com efeitos diretos sobre a economia real. “Estamos falando de um país que importa mais de US$ 400 bilhões por ano. A simples ameaça de sobretaxa já impacta os contratos, a precificação, o planejamento financeiro e até a confiança entre parceiros comerciais”, afirma. “Agora imagine o que isso significa para uma PME que já enfrenta a burocracia cambial brasileira e ainda precisa antecipar pagamento a fornecedores no exterior.”
Midea relata que, para muitos pequenos e médios importadores, o risco começa antes mesmo da mercadoria deixar o país de origem. A exigência de pagamento antecipado — muitas vezes com 60 ou até 90 dias de antecedência — já compromete o fluxo de caixa de empresas com capital limitado. “Já vimos empresas quebrarem com a carga ainda na China porque o dólar subiu 7% em duas semanas após a remessa ser feita. O câmbio, neste contexto, não é apenas uma variável: é uma ameaça”, diz.
A carta enviada por Trump ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, publicada na íntegra pelo Truth Social, critica o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e afirma que o STF estaria censurando plataformas dos EUA. No documento, Trump menciona que as tarifas anteriormente estipuladas em 10% serão elevadas para 50% em retaliação a uma suposta perseguição ideológica.
Embora a medida ainda não tenha sido oficialmente implementada, a sinalização já pressiona o câmbio, eleva o custo de hedge cambial e lança incertezas sobre a segurança jurídica dos contratos internacionais. “É um golpe duro para qualquer empresário, mas é um colapso anunciado para quem não está estruturado. As grandes empresas têm departamento de risco, acesso a crédito no exterior e planejamento estratégico. Já o pequeno empresário, muitas vezes, depende de uma única remessa para manter o negócio funcionando”, pontua o CEO da Fácil Negócio.
A empresa, que atua assessorando PMEs em todo o ciclo de importação — da negociação com fornecedores ao desembaraço aduaneiro — tem observado um padrão preocupante: quanto menor o porte da empresa, maior a exposição a erros fatais. “O compliance dos bancos, os limites de envio de remessas, a exigência documental e a ausência de linhas de crédito adequadas formam uma armadilha. E o empresário nem sempre enxerga que está nela”, alerta Midea.
Com a tensão política e econômica global, o executivo defende uma mudança de mentalidade no setor. “O problema não é importar. O problema é importar sem estratégia. O empresário brasileiro precisa entender que, neste novo cenário, não há mais espaço para amadorismo. Não se trata só de comprar bem, mas de negociar prazos, fazer hedge, entender as legislações internacionais e se preparar para variações geopolíticas. Estamos vivendo uma era em que uma carta no exterior pode custar caro demais aqui dentro.”
Para Midea, a única saída para as PMEs que desejam continuar no comércio internacional é buscar apoio técnico e estruturar suas operações com o mesmo rigor das grandes. “É hora de tratar a importação como ciência, e não como aposta.”