Por que o DIX se tornou um espaço de intimidade e risco no Instagram?

Rede social secundária é usada por jovens para escapar da exposição excessiva, mas especialistas alertam para os perigos desse ambiente restrito

Um fenômeno silencioso e crescente entre adolescentes tem chamado atenção de psicólogos e educadores: o uso do chamado “DIX”, uma espécie de perfil secundário e restrito dentro do Instagram, criado especialmente para dividir conteúdos apenas com amigos mais próximos. Embora pareça inofensivo à primeira vista, esse espaço íntimo tem levantado preocupações sobre os impactos emocionais e sociais nos jovens.

De acordo com o psicólogo e professor do curso de Psicologia da Faculdade UNINASSAU Olinda, Cleyson Monteiro, o DIX tem surgido como uma resposta à exposição intensa vivida nas redes sociais. “Os adolescentes estão em busca de um ambiente controlado, onde possam expressar sua intimidade de maneira mais autêntica e seletiva”, explica. Ele relata que muitos pacientes descreveram o DIX como o único lugar onde se sentem livres para ser quem realmente são, sem precisar agradar os outros ou manter uma imagem idealizada.

Apesar dessa sensação de liberdade, Monteiro explica que o comportamento pode representar um sinal de alerta. “Muitas vezes, dentro desses perfis fechados, ocorre uma superexposição para um grupo restrito, o que pode abrir espaço para comportamentos extremos, como hipersexualização, racismo, incitação à violência ou discursos discriminatórios que dificilmente seriam compartilhados em espaços mais amplos, por medo de repressão ou cancelamento”, afirma.

Para o especialista, o DIX funciona como uma bolha de validação, onde o jovem tende a reforçar padrões de conduta com base em um grupo que pensa de forma semelhante. Isso pode afastá-lo ainda mais de uma convivência social saudável. “Esses ambientes reforçam atitudes individualistas e podem tornar o adolescente menos sensível à convivência humana e às divergências de pensamento, o que é um risco importante na fase de formação da identidade”, destaca Cleyson.

A atuação de pais e educadores nesse cenário precisa ser cuidadosa, equilibrando o respeito à privacidade com a orientação ética e emocional. “A intervenção responsável faz parte do processo educativo. O ideal é abordar o tema de forma individual, pelos responsáveis, e coletiva, pela escola, sempre explicando as consequências da seletividade exagerada e do isolamento”, orienta o psicólogo. Ele acrescenta que essa conversa deve acontecer com base em valores familiares, sem imposições, permitindo que o jovem desenvolva senso crítico e autonomia para decidir o que acredita e deseja seguir no futuro.

Embora o DIX ainda seja pouco estudado do ponto de vista neurocientífico, Monteiro afirma que os primeiros indícios mostram que esse tipo de seletividade pode gerar impactos no comportamento e desenvolvimento emocional. “Estamos falando de uma fase da vida em que é essencial promover integração, empatia e senso de pertencimento. Quando esses jovens se refugiam em espaços digitais mal monitorados, correm o risco de perder essas experiências fundamentais”, conclui.