Presidente brasileiro fará discurso de abertura da Assembleia-Geral em meio a embates diplomáticos, ameaças de tarifas e exclusão dos EUA de evento sobre democracia
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarca nos Estados Unidos neste domingo (21/9) para participar da abertura da Assembleia Geral da ONU, marcada para terça-feira (23/9). A visita ocorre em meio a fortes tensões com o governo norte-americano, agravadas pela política de tarifas adotada por Donald Trump e pela recente condenação de Jair Bolsonaro no Brasil.
Viagem marcada por atritos diplomáticos e medidas de retaliação
Esta será a primeira visita de Lula aos EUA desde o chamado “tarifaço” de Trump, que impôs novas barreiras às exportações brasileiras. Em resposta, o governo brasileiro lançou o Plano Brasil Soberano, que inclui:
- R$ 30 bilhões em crédito subsidiado para exportadores afetados;
- Compra de produtos perecíveis por estados para merenda e programas sociais;
- Ampliação do Reintegra para devolução de tributos;
- Prorrogação do regime de drawback, que suspende impostos sobre insumos exportáveis.
A medida provisória (MP) tem foco especial em pequenos exportadores, os mais vulneráveis ao impacto das tarifas norte-americanas.
Bolsonaro, Trump e tensão institucional
O clima azedou ainda mais com a condenação de Jair Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão, por tentativa de golpe de Estado em 2022. Em resposta, o secretário de Estado do governo Trump, Marco Rubio, ameaçou “agir” contra o Brasil.
“Ameaças como a feita hoje por Marco Rubio (…) não intimidarão a nossa democracia”, respondeu o Itamaraty, em nota oficial do Ministério das Relações Exteriores (MRE).
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, chegou a desistir de participar da comitiva por considerar as restrições impostas pelos EUA uma “humilhação”.
Discurso de Lula deve defender soberania, comércio livre e paz
Como ocorre tradicionalmente, Lula será o primeiro chefe de Estado a discursar na abertura da Assembleia-Geral da ONU. A expectativa é que ele:
- Critique a política de tarifas protecionistas adotada pelos EUA;
- Defenda o livre comércio global e a soberania brasileira;
- Reforce sua oposição a conflitos armados e ao extremismo;
- Reafirme a democracia brasileira como inegociável.
Evento paralelo exclui EUA por “falta de compromisso democrático”
Lula também participará do evento “Em Defesa da Democracia e Contra o Extremismo”, na quarta-feira (24/9), em Nova York — do qual os EUA foram excluídos. Segundo membros do governo, “não há condições” de convidar países que questionam eleições democráticas, em referência ao histórico de Trump e seus aliados com relação ao Brasil.
A visita promete ser o palco de embates não apenas entre diferentes visões de mundo, mas entre dois projetos de poder global. Para Lula, o momento é de reafirmação da soberania nacional diante de pressões externas e de construção de alianças políticas que transcendam a lógica hegemônica dos EUA.