Presidente classifica o episódio como “abominável” e pede posicionamento formal do Itamaraty e protesto institucional do Parlamento brasileiro
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) classificou como “abominável” a situação enfrentada pela deputada federal Erika Hilton (PSol-SP), que recebeu um visto de entrada nos Estados Unidos emitido com gênero masculino, em desacordo com sua identidade de gênero e documentação oficial brasileira.
Durante encontro com a parlamentar na manhã desta quinta-feira (24/4), no Palácio do Planalto, Lula afirmou que o episódio configura uma forma de ingerência internacional indevida e solicitou uma resposta formal do Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty), além de ações institucionais do Congresso Nacional.
“Você não foi pedir mudança de sexo, foi pedir passaporte para fazer uma viagem aos Estados Unidos. Era isso que eles deveriam ter te dado. E defender isso é defender a soberania brasileira. É o mínimo que a gente espera”, declarou Lula.
Itamaraty sob pressão e cobrança por resposta mais firme
Na quarta-feira (23/4), Erika Hilton se reuniu com o chanceler Mauro Vieira para tratar do caso. Segundo a parlamentar, o encontro foi “aquém do esperado” e não resultou em um posicionamento claro por parte do Itamaraty. Diante disso, ela optou por levar o tema diretamente ao presidente da República.Lula, por sua vez, afirmou já ter conversado com o ministro e que é fundamental que o Brasil manifeste “inconformidade institucional” com o episódio. Ele também sugeriu que o Parlamento brasileiro envie cartas formais de protesto ao Congresso dos Estados Unidos, destacando a gravidade do ocorrido.
“É importante que vocês aprendam a ficar inquietas também. Tem de haver um protesto da Câmara dos Deputados brasileira para a Câmara dos Deputados americana. Tem de haver uma carta para o Senado americano”, afirmou Lula durante a reunião com Hilton.
Contexto diplomático e identitário
Erika Hilton, uma das vozes mais atuantes em defesa dos direitos LGBTQIA+ no Brasil, é a primeira deputada federal trans eleita por São Paulo. O caso gerou forte repercussão nas redes sociais e no meio político, sendo interpretado como desrespeito à identidade de gênero reconhecida legalmente pelo Estado brasileiro.O episódio também lança luz sobre os desafios que pessoas trans enfrentam em processos consulares internacionais e levanta discussões sobre como a diplomacia deve atuar na defesa de seus cidadãos frente a potenciais atos discriminatórios praticados por embaixadas estrangeiras.