O economista alemão Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial (WEF) e figura central do encontro anual de Davos, anunciou sua renúncia ao cargo de presidente do conselho de administração, encerrando uma trajetória de mais de meio século à frente da instituição que ajudou a moldar a agenda da globalização.
Aos 87 anos, Schwab afirmou em nota que sua saída tem efeito imediato. O comunicado do WEF veio após o anúncio inicial feito no começo do mês, que já indicava sua intenção de deixar o posto, embora sem um cronograma exato.
“Ao entrar em meu 88º ano de vida, decidi deixar o cargo de presidente e de membro do Conselho de Administração, com efeito imediato”, declarou Schwab em nota oficial.
Um legado que atravessa gerações
Fundado em 1971, o Fórum Econômico Mundial nasceu como um espaço para o diálogo entre líderes empresariais e formuladores de políticas públicas. Ao longo das décadas, Schwab transformou Davos, um vilarejo nos Alpes suíços, em um dos pontos de encontro mais influentes — e controversos — da elite econômica e política global.
A reunião anual, realizada todo mês de janeiro, se tornou símbolo da globalização e de um mundo cada vez mais interconectado — mas também passou a ser alvo de duras críticas por representar, para muitos, um palco distante da realidade da maioria da população mundial.
Críticas e turbulências recentes
Nos últimos anos, o WEF enfrentou uma série de desafios à sua reputação:
- Críticas ideológicas de movimentos à esquerda e à direita, que enxergam Davos como um espaço elitista, fechado e desconectado das ruas;
- Denúncias sobre a cultura interna, incluindo alegações de assédio e discriminação reveladas pelo Wall Street Journal em 2023 (negadas pelo WEF);
- Choques geopolíticos, como a invasão da Ucrânia pela Rússia, o avanço de políticas protecionistas nos Estados Unidos e a desaceleração das cadeias globais de valor.
Esses fatores levaram muitos analistas a enxergarem o WEF como uma instituição em transição — ou em declínio, diante de um cenário internacional fragmentado e menos disposto a consensos multilaterais.
A previsão de Schwab sobre a reação à globalização
Curiosamente, Schwab antecipou parte dessas críticas décadas atrás. Em 1996, ao lado de Claude Smadja, escreveu:
“Uma reação cada vez maior contra os efeitos da globalização, especialmente nas democracias industriais, está ameaçando um impacto muito perturbador sobre a atividade econômica e a estabilidade social.”
“O clima nessas democracias é de impotência e ansiedade, o que ajuda a explicar o surgimento de um novo tipo de políticos populistas.”
Próximos passos no WEF
O conselho do Fórum aceitou a renúncia de Schwab em uma reunião extraordinária realizada no dia 20 de abril. O vice-presidente Peter Brabeck-Letmathe assumirá interinamente a presidência do conselho enquanto o processo de sucessão oficial é conduzido.
Não há, até o momento, detalhes sobre quem poderá assumir a liderança definitiva da organização — ou se o WEF buscará renovar sua imagem e seu papel no cenário global diante das transformações em curso.
Klaus Schwab deixa o cargo, mas permanece como símbolo de uma era: a da globalização em seu auge, dos encontros de cúpula, da diplomacia corporativa. Uma era que, para muitos, está sendo repensada — e para outros, já chegou ao fim.