Jetons elevam salários de secretários de SP a mais de R$ 50 mil

Pagamentos extras por reuniões mensais em conselhos de estatais ampliam em até R$ 20 mil os vencimentos do alto escalão do governo Tarcísio.

Secretários estaduais de São Paulo estão recebendo salários superiores ao teto constitucional graças aos chamados “jetons” — gratificações pagas por participação em conselhos de empresas públicas.

A prática, embora legal, gera supersalários que ultrapassam os R$ 50 mil mensais, segundo dados do Portal da Transparência analisados pela reportagem.

Participação em conselhos garante bônus mensal

Atualmente, 12 secretários do governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) atuam como conselheiros fiscais ou administrativos em estatais paulistas.

Apenas uma reunião mensal — em alguns casos remota — é suficiente para garantir o valor extra, que chega a até R$ 19.744 por mês.

O salário-base de um secretário estadual é de R$ 31 mil. Com os jetons, a remuneração bruta de alguns integrantes do primeiro escalão passa de R$ 50 mil, superando o teto do funcionalismo estadual — que corresponde ao salário do governador, fixado em R$ 34.572,89.

No entanto, os jetons não entram no cálculo do abate-teto, o que permite os pagamentos acima do limite legal sem violar a norma formalmente.

Quem são os beneficiados?

Entre os que recebem os maiores valores estão:

  • Arthur Lima (Casa Civil)
  • Andreza Rosalém Vieira (Desenvolvimento Social)
  • Samuel Kinoshita (Fazenda)
  • Guilherme Afif Domingos (Projetos Estratégicos)

Cada um desses secretários participa de dois conselhos distintos e, com isso, recebe quase R$ 20 mil em gratificações mensais.

Outro exemplo é o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite (PP), que recebe R$ 13.163,58 mensais em jetons por integrar os conselhos do Metrô e da Cetesb, embora nenhuma dessas empresas esteja ligada diretamente à sua pasta.

Expansão do benefício

Além dos secretários, secretários executivos e presidentes de estatais também recebem jetons. Com 25 pastas no total, quase metade do secretariado estadual conta com algum tipo de penduricalho remuneratório.

A prática não é nova, mas volta ao centro do debate público com a escalada salarial que esvazia o espírito do teto constitucional — criado justamente para conter abusos e preservar a moralidade administrativa.


A transparência dos jetons, embora formalmente respeitada, escancara uma brecha legal usada para ampliar os rendimentos de autoridades públicas sem debate, sem reforma e, muitas vezes, sem compatibilidade com a função exercida.