O ícone do jazz contribuiu para colocar o país no circuito internacional de shows e desempenhou um papel fundamental na disseminação da música brasileira nos EUA
Na noite de 17 de abril de 1959, uma sexta-feira, 20 mil espectadores enchiam o ginásio do Maracanãzinho. A expectativa da plateia era palpável. Quando o som dos aplausos finalmente cessou, os presentes testemunharam um dos maiores vocalistas da história do jazz avançar lentamente do fundo do palco em direção ao microfone, vestindo um terno levemente cintilante e bem ajustado, com um lenço branco na lapela e um amplo sorriso radiante que contrastava com sua pele escura. Ali, diante deles, Nat King Cole parecia mais do que um cantor – ele era um piano personificado.
Era o primeiro de três espetáculos consecutivos e lotados no ginásio adjacente ao maior estádio de futebol do mundo, na década de 50. Após encerrar sua passagem pela Cidade Maravilhosa, Cole partiu para São Paulo, onde se apresentaria em outros quatro shows (21 a 24) no elegante Teatro Paramount, na Av. Brigadeiro Luís Antônio. Seu contrato exigia um piano de cauda branco, indisponível no país. A solução, em ambas as cidades, foi pintar o instrumento, utilizado apenas em duas músicas tocadas por ele: “Tea for Two” e “Where or When”. Antes de se destacar como cantor, a crítica norte-americana o reconhecia como um dos maiores pianistas do jazz.
Não era a primeira vez que os cariocas testemunhavam a presença ao vivo de um grande ícone da música mundial. Em 1957, Louis Armstrong também passara pela cidade, vindo de São Paulo, durante uma turnê que abrangeu vários países da América do Sul. No mesmo abril do ano anterior, Bill Haley & His Comets se apresentaram exclusivamente em SP, realizando uma série de oito shows no mesmo Paramount, acompanhados pelos filmes “Juventude Transviada” (1955) e “Ao Balanço das Horas” (1956). Esses eventos marcaram o início do rock’n’roll no Brasil.
No entanto, a visita de Cole foi singular. O artista desembarcou na então capital do país em um momento em que era reverenciado em todo o mundo. O Rio de Janeiro que ele encontrou vivia seus “anos dourados”, com o advento da industrialização no país e a expansão dos meios de comunicação, incluindo rádio, revistas e a popularização da televisão. Tanto sua turnê quanto a de Bill Haley foram idealizadas pelo empresário de comunicação Paulo Machado de Carvalho, conhecido como Paulinho, proprietário da rádio e da TV Record.