Franqueado foi citado na Operação Spare, que investiga uso de franquias, postos e fintechs por organização ligada ao PCC.
O Grupo Boticário se pronunciou oficialmente nesta quinta-feira (3) após ser citado de forma indireta na Operação Spare, deflagrada pela Receita Federal e pelo Ministério Público de São Paulo. A operação é um desdobramento da investigação Carbono Oculto, que apura o uso de setores formais da economia pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) para lavar dinheiro proveniente de atividades ilícitas.
Segundo a Receita, o esquema teria movimentado R$ 4,5 bilhões entre 2020 e 2024, com recolhimento de apenas 0,1% em tributos federais. A rede de lavagem incluiria postos de combustíveis, motéis, fintechs e franquias, que serviam como fachada para a formalização de valores obtidos com jogos de azar e adulteração de combustíveis.
Entre os alvos da operação está Maurício Soares de Oliveira, sócio de uma empresa terceira com participação em lojas franqueadas do Grupo Boticário. O nome do grupo foi citado de forma indireta nos autos, o que levou à manifestação da companhia.
“O Grupo Boticário não tinha conhecimento nem tem qualquer responsabilidade sobre as ações ilícitas denunciadas”, afirmou a empresa em nota oficial.
A companhia destacou ainda que adota políticas específicas de prevenção à lavagem de dinheiro e anticorrupção, além de um Código de Conduta e cláusulas contratuais de franquia que exigem “cumprimento irrestrito da legalidade”. O grupo declarou estar em contato com as autoridades para obter mais informações sobre o caso e reforçou que repudia qualquer prática ilegal.
A engenharia do esquema
De acordo com a Receita Federal, o PCC operava uma complexa estrutura financeira para infiltrar recursos no sistema formal. O núcleo contava com maquininhas de cartão adaptadas, que redirecionavam pagamentos de estabelecimentos para uma fintech controlada pelo grupo criminoso.
Esse dinheiro era, então, utilizado para a aquisição de bens de luxo, como iate, helicóptero, carros de alto padrão e terrenos avaliados em mais de R$ 20 milhões, onde foram construídos motéis.
Um dos principais canais usados para escoar os recursos era o BK Bank, instituição descrita pela Receita como um “buraco negro da lavagem”. Segundo os investigadores, a fintech realizava transferências sem registro contábil claro, misturava fundos de clientes com contas próprias e mantinha uma “contabilidade paralela”.
Franquias na mira
A operação identificou 21 CNPJs ligados a 98 estabelecimentos de uma mesma rede de franquias, que, juntas, movimentaram cerca de R$ 1 bilhão no período investigado, mas emitiram notas fiscais somando apenas R$ 550 milhões.
Apesar de operacionais, os negócios apresentavam sinais de ocultação patrimonial, sonegação fiscal e movimentações incompatíveis com a carga tributária. Segundo a Receita, os tributos federais recolhidos correspondiam a apenas 2,5% da movimentação declarada.
As investigações seguem em andamento, e as autoridades não descartam novas diligências ou responsabilizações, conforme o aprofundamento das provas. O Grupo Boticário, até o momento, não é alvo direto da operação, mas monitora os desdobramentos do caso envolvendo seu franqueado.