Gilmar Mendes em Paris: “A eleição de Lula se deveu ao Supremo”

“Contamos a história de sucesso de uma instituição que soube defender a democracia até contra os impulsos de uma parte significativa da elite”, afirmou o ministro Gilmar Mendes, decano do STF, neste sábado (14), no Fórum Internacional do Grupo Esfera, em Paris.

No discurso, o ministro foi enfático ao dizer que parte da elite brasileira apoiou teses antidemocráticas e tentou enfraquecer o STF em momentos decisivos. “Certamente, muitos aqui defenderam concepções que, se vitoriosas, levariam à derrocada do Supremo Tribunal Federal”, declarou, diante de uma plateia formada majoritariamente por grandes empresários e autoridades.

✊ Democracia sob ataque e o papel da Corte

Gilmar Mendes associou diretamente a eleição de Lula em 2022 à atuação do STF, que, segundo ele, “impediu o colapso institucional” ao barrar movimentos que flertavam com o golpismo.

Ele também fez duras críticas à Lava-Jato, dizendo que o país estava caminhando para um modelo totalitário sob o pretexto do combate à corrupção.

“Estávamos ordenando, em nome do combate à corrupção, um modelo totalitário de Estado”, disse, apontando erros jurídicos e abusos cometidos pela força-tarefa.

⚖️ Senado e TCU reagem com cautela

Também presentes no evento, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o presidente do TCU, Bruno Dantas, adotaram tom conciliador. Pacheco afirmou que as propostas que tramitam no Congresso para limitar poderes do STF não são “retaliação”, mas tentativa de buscar equilíbrio institucional.

Bruno Dantas, por sua vez, disse que o “desgaste” da Corte está ligado ao excesso de processos — cerca de 20 mil por ano, contra menos de 100 julgados pela Suprema Corte dos EUA. “Com esse volume, é natural que haja tensão constante”, concluiu.


Reflexão

A fala de Gilmar Mendes vai além do tom técnico-jurídico e assume contornos políticos e institucionais profundos: reconhece o protagonismo do STF na estabilidade democrática recente do Brasil, ao mesmo tempo em que expõe o confronto com parte da elite econômica e com setores do Judiciário ligados ao lavajatismo.