Empresários brasileiros ajudaram a destravar aceno de Trump a Lula

Atuação de grandes grupos e lobbies em Washington reforçou ala pró-comércio e abriu caminho para contato direto entre os presidentes após a ONU

Grandes empresários brasileiros atuaram nos bastidores para aproximar os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, contribuindo para os gestos de distensão feitos pelo republicano ao petista nesta terça (23), durante a Assembleia-Geral da ONU. Segundo interlocutores, companhias como Embraer e JBS articularam argumentos econômicos e acionar am grupos de lobby com acesso direto ao governo americano, fortalecendo a ala que defende negociação centrada em comércio — e não em disputa política — na relação EUA–Brasil.

Quem está de cada lado em Washington

De um lado, o escritório de comércio dos EUA (USTR), chefiado por Jamieson Greer, e o Departamento de Comércio, liderado por Howard Lutnick, além do Tesouro, com Scott Bessent, que manifestou preocupação com efeitos sistêmicos caso sanções alcançassem bancos brasileiros. Do outro, funcionários do Departamento de Estado e o ex-assessor Jason Miller, que enxergam o julgamento de Jair Bolsonaro como eixo da agenda bilateral e defendem pressão máxima sobre o Brasil.

Os principais argumentos do setor privado

Nas conversas com autoridades americanas, empresários insistiram que sobretaxas sobre café e carne elevam preços ao consumidor nos EUA. Também pontuaram que o tarifaço poderia fortalecer politicamente Lula — o oposto do pretendido por quem busca enfraquecê-lo — e que a reabilitação de Bolsonaro não está ao alcance de Washington, evidenciada pela condenação do ex-presidente no STF apesar da pressão.

Agenda em Washington e “diplomacia por baixo do radar”

Na semana de 11 de setembro, nomes como Joesley Batista (JBS)João Camargo (Esfera Brasil) e Carlos Sanchez (EMS) estiveram em Washington. O grupo se reuniu com parlamentares republicanos — entre eles Maria Elvira Salazar, próxima ao secretário de Estado, Marco Rubio — e com integrantes da equipe de Trump. Também houve encontro com Susie Willeschefe de gabinete da Casa Branca.
Na semana anterior, a CNI manteve reuniões com o vice-secretário de Estado Christopher Landau, o USTR e o Departamento de Comércio. Em paralelo, o governo Lula operou canais discretos nesses mesmos órgãos, buscando baixar a temperatura do conflito tarifário.

Resultado parcial: sanções, mas sem novas tarifas

Na segunda (22), Trump ampliou sançõesViviane Barci, esposa do ministro Alexandre de Moraes, entrou na Lei Magnitsky, e o ministro da AGU, Jorge Messias, teve o visto cassado — punição estendida a outros servidores. Não houve novas tarifas nem exclusão de itens das exceções; ao contrário, interlocutores se dizem otimistas com a inclusão da carne entre os produtos isentos do tarifaço de 50%.

O gesto na ONU e o próximo passo

Com a margem de interlocução ampliada, auxiliares do Planalto avaliaram que a ONU seria o palco ideal para um primeiro contatoLula e Trump se cumprimentaram nos corredores; segundo o americano, houve “excelente química”. O chanceler Mauro Vieira afirmou que os presidentes devem conversar por videoconferência na próxima semana — primeiro diálogo direto do ciclo atual, potencial ponto de partida para recalibrar as negociações sobre tarifas.