Foto de abertura: Agência Mentha/Divulgação
Filho de agricultores, ele transformou uma colheita fracassada de ervilhas no ponto de virada que o levou a construir um império da culinária italiana reconhecido pelo Guia Michelin.
A história de Juscelino Pereira é daquelas que parecem escritas com tinta do destino. Dono do renomado restaurante Piselli, com quatro unidades — incluindo uma em Brasília —, ele saiu de Joanópolis, interior de São Paulo, para se tornar um dos nomes mais respeitados da gastronomia paulistana.
Mas o começo de sua trajetória não teve nada de glamouroso.
Tudo começou com um erro na roça. Aos 17 anos, Juscelino decidiu apostar em algo inédito na região: plantar ervilhas. Com otimismo, investiu tudo o que tinha, preparou a terra, garantiu a venda antecipada da safra e sonhou alto. No dia da colheita, porém, descobriu que havia plantado ervilha torta, colhida tarde demais. Toda a produção estava estragada.“Senti um soco no estômago”, relembra.
Foi nesse fracasso que nasceu o ponto de virada. Ele partiu para São Paulo e, mesmo sem experiência, começou a trabalhar no bar Casarão, lavando o chão e servindo sanduíches. Aos poucos, o talento natural para lidar com o público foi chamando atenção. Incentivado por clientes, foi trabalhar nos Jardins — bairro onde “as gorjetas eram boas” — e não parou mais de subir.
O grande salto veio no Fasano. Entrou como sommelier e logo se tornou maître-sommelier do restaurante Gero. Viajou o mundo, estudou vinhos e mergulhou no universo da gastronomia de alto padrão. Mas algo ainda faltava: “Ganhava bem, mas achava que podia mais”.
Foi então que, com um caderno em mãos, começou a desenhar seu próprio restaurante. Quando descobriu que pisellisignificava “ervilha” em italiano, não teve dúvidas: homenagearia o fracasso que mudou sua vida. Nascia o Piselli, nos Jardins, em São Paulo.
Hoje, o Piselli é uma constelação de sabores da Itália.
- A unidade dos Jardins remete ao Piemonte.
- O restaurante no Shopping Iguatemi paulista traz o frescor do sul da Itália.
- No Centro, o clima é milanês.
- E em Brasília, onde abriu a quarta casa, Juscelino celebra a Toscana — e seu avô Tavico, que o batizou inspirado no presidente Juscelino Kubitschek. “Sinto que estar em Brasília é homenagear meu avô, que sabia que eu chegaria lá”.
Entre os pratos, destaca-se o Tonno Arabo: atum em crosta de especiarias, redução de vinho Marsala, babaganoush defumada e coalhada seca.
De uma lavoura perdida a um nome inscrito no Guia Michelin, a trajetória de Juscelino Pereira é prova de que grandes histórias nascem, muitas vezes, da dor — e que até uma ervilha estragada pode ser o ingrediente de um futuro brilhante.