Coronel Nunes recebeu mais de R$ 3,5 milhões da CBF após deixar oficialmente a entidade

Ex-dirigente assinou acordo que garantiu Ednaldo Rodrigues na presidência e continuou recebendo pagamentos milionários até 2024

Documentos obtidos com exclusividade revelam que Antônio Carlos Nunes, conhecido como Coronel Nunes, recebeu R$ 3.567.720,91 da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) entre 2022 e 2024 — mesmo após deixar oficialmente a entidade em maio de 2022.

Ex-vice-presidente e presidente interino da CBF, Nunes foi um dos cinco signatários do acordo homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que permitiu a recondução de Ednaldo Rodrigues ao comando da entidade em janeiro deste ano.


Contradição temporal

O que chama atenção nos documentos é o fato de que os pagamentos mais robustos ocorreram após o desligamento formal de Nunes da instituição, em maio de 2022. A cifra recebida nos meses seguintes não está relacionada a cargo oficial ou função executiva conhecida, o que levanta suspeitas sobre a natureza e a finalidade desses repasses.

Os valores foram transferidos em parcelas periódicas, configurando um possível vínculo informal de remuneração ou compensação não esclarecida. Até o momento, a CBF não emitiu nota oficial explicando os pagamentos nem apresentou justificativas públicas para os repasses.


O papel de Nunes no acordo do STF

Coronel Nunes foi um dos dirigentes que assinaram o acordo costurado entre a CBF, o STF e o Ministério Público do Rio de Janeiro, que pôs fim a uma disputa judicial pelo controle da entidade. O documento, homologado pelo ministro Gilmar Mendes, garantiu a continuidade do mandato de Ednaldo Rodrigues, que havia sido temporariamente afastado por decisão judicial.

O acordo também suspendeu uma intervenção na CBF e consolidou Ednaldo como presidente até 2027 — fortalecendo seu controle sobre a cúpula do futebol brasileiro.


Suspeitas e silêncio

Fontes ligadas ao sistema do futebol veem nos pagamentos a Nunes possíveis sinais de recompensa política ou manutenção de fidelidade institucional, algo que contraria as boas práticas de governança. Já membros do meio jurídico alertam para a falta de transparência da CBF em relação às suas contas — uma crítica que se intensifica diante da ausência de prestação de contas pública detalhada.

Até o momento, nem Coronel Nunes nem a CBF se pronunciaram sobre os valores ou esclareceram se os pagamentos fazem parte de contrato, indenização, consultoria ou outro tipo de vínculo formalizado.


O que vem a seguir?

Diante da revelação, parlamentares e entidades de fiscalização já começam a cobrar maior transparência da CBF e apuração sobre possíveis irregularidades. A expectativa é que o caso amplifique a pressão sobre a entidade, que nos últimos anos vem sendo alvo recorrente de suspeitas de favorecimento, acordos obscuros e ingerência política.

A permanência de figuras históricas do futebol brasileiro, como Coronel Nunes, mesmo após o fim de suas funções, reforça a percepção de que a CBF continua operando com pouca renovação e alto grau de opacidade.