“Estou exausta”. Foi assim que a atriz e cantora Camila Cabello finalizou uma carta aberta em seu Instagram onde falava sobre como estava se sentindo mal pelos comentários feitos a respeito de seu corpo nos últimos tempos. “Comprei um biquíni novo, um look novo, passei gloss e não comi nada pesado antes de entrar no mar porque sabia que depois sairia um ensaio completo de fotos minhas. Segurei minha barriga com tanta força que mal conseguia respirar e não sorri porque sabia que os paparazzi estavam escondidos o tempo todo. Eu não podia relaxar, algo que é para acontecer quando estou próxima da natureza”, completou na publicação.
A atriz é alvo de comentários e críticas sobre seu corpo e peso há alguns meses. E isso tem nome: o body shame. Na tradução livre, o termo significa ‘vergonha do corpo’, mas vai além desse sentimento. “É também a depreciação do corpo alheio, um bullying com o próximo. E não é só sobre engordar, apesar de ser um caminho para a gordofobia”, diz a psicóloga Graziela Maria, especialista em dependências, abusos e compulsões. As vítimas destes ataques começam a ver o corpo de uma forma diferente da que realmente é e podem passar a não gostar mais daquela imagem simplesmente por não se encaixar em um padrão.
Mais com as mulheres
Homens e mulheres enfrentam pressões estéticas de formas diferentes. Enquanto para eles o envelhecer é romantizado —por exemplo, os cabelos grisalhos são sexy—, para nós, mulheres, é o oposto. “A questão da autoimagem afeta mais os meninos na adolescência, mas os homens não são cobrados a ter uma perfeição inatingível como as mulheres”, diz a psicóloga Adriana Severine, especialista em psicologia cognitiva comportamental. Essa cobrança, muitas vezes, parte até de nós mesmas com o nosso corpo.
Apesar de estarmos em um momento de quebrarmos o paradigma de mulheres de cabelo branco, por exemplo, o envelhecimento também é alvo do body shame. “É comum ter definições de que a mulher velha é feia e que cabelo branco é sinal de relaxo com a aparência. De jovens a terceira idade, somos cobradas por um padrão difícil de corresponder”, explica Adriana.
O que o público quer
Se temos que ser perfeitas ao vivo, imagine só em fotos que selecionamos para postar nas redes sociais, não é mesmo? “O acesso às redes sociais aumentou o body shame, pois esse é um ambiente que pede que sejamos o que o público quer, não o que realmente somos”, diz Graziela. A especialista ainda lembra que as mulheres famosas são as principais vítimas desse tipo de ataque, principalmente vindo de perfis falsos.
A atriz Selena Gomez é uma delas. Em entrevista ao programa de TV americano “Good Morning America” da última segunda (4), ela contou que se afastou das redes sociais há quatro anos, o que fez sua vida mudar completamente. Selena disse que se sente mais feliz assim. Inclusive, o motivo de sua aparição no programa era o lançamento do site Wondermind, que incentiva à saúde mental.
“As pessoas estão usando cada vez mais filtros, criando nas redes uma imagem que não é real, o que ajuda na disseminação do body shame”, diz a psicóloga Adriana. Esse comportamento faz com que a gente perca a noção de como somos de verdade, alterando uma de nossas realidades. A especialista conta, inclusive, que uma de suas pacientes não quer mais sair para que as pessoas não vejam como ela, ao vivo, é diferente da versão que criou nas redes sociais durante o distanciamento social.
Fobia social
Se você começou a se sentir deprimida com sua imagem e desconfortável sobre o que andam dizendo sobre sua aparência, procure tratamento. “Existem pacientes que desenvolvem anorexia, bulimia, fobia social, automutilação. É muito comum. Tem quem não vá à praia porque tem celulite. O padrão brasileiro cobra muito que você seja uma mulher com o corpão padrão”, diz Graziela.
E quanto mais esperar para buscar ajuda, pior os sintomas. “Procure assim que perceber que há algo de errado”, diz Adriana.