Com curadoria de Agnaldo Farias, a exposição traz trabalhos nos quais o artista expressa, com senso crítico e empatia, tragédias e belezas do nosso tempo
Brasília, DF — Com uma carreira que se estende por mais de cinco décadas, Siron Franco é um dos nomes mais notáveis e influentes no cenário artístico do Brasil. No dia 13 de agosto (quarta-feira), a Cerrado Cultural inaugura em Brasília uma exposição individual abrangente do artista, sob curadoria de Agnaldo Farias. Intitulada Siron Franco: Observando o mundo desde o centro do Brasil, a mostra ocupa todos os espaços expositivos da galeria, reunindo cerca de 20 pinturas de grandes dimensões que refletem a sensibilidade e o olhar crítico do artista sobre as tragédias e belezas do mundo.
Profundamente marcada pela observação do mundo, a poética de Siron captura o fascínio e o espanto diante dos acontecimentos que marcaram a sociedade. A exposição apresenta obras que dialogam diretamente com eventos recentes e históricos. Em seu texto para a mostra, o curador Agnaldo Farias destaca a capacidade do artista de traduzir em telas os conflitos, iniquidades e também a beleza que compõem o nosso mundo, em um conjunto de obra que se nutre da realidade.
De acordo com o curador, as pinturas de Siron Franco oscilam entre a perplexidade e a indignação, mas também revelam um profundo encantamento com a vida. Em suas telas, ele reinterpreta catástrofes ecológicas e dramas humanos, transformando-os em símbolos pictóricos. A exposição revela a habilidade do criador em extrair de imagens icônicas — como a de um animal solitário em meio a inundações — um potente discurso sobre a vulnerabilidade e o isolamento. Cada pintura se apresenta como uma reflexão visual sobre a fragilidade da existência, ecoando a voz de um artista que não se cala diante das crises.
O alcance da obra de Siron Franco transcende o regional para abarcar o universal. Sua perspectiva, embora enraizada no Centro-Oeste, dialoga com acontecimentos que vão desde tragédias locais, como o acidente radiológico do Césio-137, até conflitos internacionais e movimentos migratórios. O conjunto de trabalhos reunidos na exposição evidencia como o artista tece uma narrativa que une a perplexidade individual com a indignação coletiva, explorando temas como o colapso ambiental e as barreiras que dividem os povos.
O processo criativo de Siron é uma explosão de energia e gestos expressivos. Suas pinturas são o resultado de uma elaboração multifacetada, onde a urgência da primeira pincelada se encontra com a meticulosidade da revisão. As camadas de tinta, muitas vezes sobrepostas e anuladas, revelam uma busca incessante por capturar a essência das coisas. Com uma técnica vigorosa, o artista constrói composições que misturam marcas caóticas e figuras abstratas, refletindo seu esforço incansável para dar forma a um mundo em constante ebulição.
A exposição na Cerrado Cultural é uma oportunidade fundamental para o público de Brasília testemunhar a relevância e a vitalidade da arte de Siron Franco. A seleção de Agnaldo Farias proporciona uma jornada estética e intelectual que reafirma o lugar do artista como um intérprete agudo e perspicaz do nosso tempo. Observando o mundo desde o centro do Brasil busca proporcionar ao visitante uma reflexão sobre a nossa própria condição, vista através dos olhos de um mestre da pintura contemporânea.
Sobre Siron Franco
Um dos nomes mais relevantes no panorama artístico brasileiro, Siron Franco é um artista vigoroso que está em atuação há quase seis décadas, produzindo obra caudalosa com uma diversidade de meios que envolve pintura, objeto, escultura, instalação e intervenção em espaço urbano. Nascido na cidade de Goiás Velho em 1947, com menos de três anos de idade passou a residir em Goiânia, onde ainda permanece e mantém o ateliê em plena atividade.
Autor inquieto e pesquisador incansável das linguagens visuais, sua produção teve início com uma figuração de caráter fantástico que recriava de maneira absurda a vida na região Centro Oeste do Brasil, e com o passar do tempo foi tornando-se abstrata, adensada materialmente. Seu olhar amplo se voltou tanto para os conflitos existenciais individuais, quanto para os problemas de ordem política, social e ecológica.
Ao longo de sua carreira recebeu uma dezena de premiações: na estreia nacional, em 1968, conquistou o Prêmio Aquisição da II Bienal da Bahia; durante década de 1970 consolidou-se no cenário artístico laureado pelas premiações Melhor Pintor Brasileiro, concedido pela XII Bienal Nacional de São Paulo (1974), Prêmio Internacional de Pintura obtido na XIII Bienal internacional de São Paulo, e Prêmio Viagem ao Exterior oferecido pelo XXIV Salão Nacional de Arte Moderna, realizado no Rio de Janeiro, ambos em 1975.
Tomou parte em exposições realizadas em importantes museus nacionais e internacionais, como Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Pinacoteca do Estado de São Paulo, The Bronx Museum of the Arts, nos Estados Unidos, e Nagoya City Art Museum, no Japão. Participou da 2ª Bienal de Havana, de diversas edições do Panorama da Arte Brasileira do MAM-SP e da Bienal Internacional de São Paulo, sendo a última vez na 33ª Bienal de São Paulo – Afinidades eletivas. Realizou mostras individuais no Brasil, Alemanha, Argentina, Chile, Estados Unidos, França e Reino Unido.
Suas obras integram acervos de importantes museu nacionais e internacionais, como Museu Nacional de Belas Artes, Museu de Arte de São Paulo, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Arte Moderna da Bahia, Metropolitan Museum of Art, Nova York, Estados Unidos; Essex Collection of Art from Latin America, Colchester, Grã Bretanha; Museu Salvador Allende, Santiago do Chile, Chile; Monterey Museum of Contemporary Art, Monterrey, México.
Sobre Agnaldo Farias
Agnaldo Farias é professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e desenvolve pesquisa em Arte e Arquitetura Contemporâneas.
Foi Curador Geral do Museu Oscar Niemeyer (2017/2018), Curador Geral do Instituto Tomie Ohtake (2000/2012) e do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1998/2000). Foi Curador de Exposições Temporárias do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (1990/1992).
Foi Curador Geral da 29a. Bienal de São Paulo (2010), da Representação Brasileira da 25a. Bienal de São Paulo (1992) e Curador Adjunto da 23a. Bienal de São Paulo (1996). Foi Curador Geral da 3a. Bienal de Coimbra, Portugal (2019), Curador Internacional da 11a. Bienal de Cuenca, Equador (2011) e do Pavilhão Brasileiro da 54a. edição da Bienal de Veneza (2011).
Recebeu os prêmios: “Melhor retrospectiva” da APCA, 1994 (Retrospectiva Nelson Leirner – Paço das Artes); Prêmio Maria Eugênia Franco, da ABCA, pela melhor curadoria de 2011 (Nelson Leirner 1961-2011 – FIESP); Prêmio Exposição Rico Lins – Gráfica de Fronteira (2010 – Instituto Tomie Ohtake); Prêmio “Melhor exposição de fotografia”, da APCA, 2022 (Penna Prearo).
Sobre a Cerrado Cultural
A Cerrado Cultural tem como propósito fomentar a cultura e a educação em artes visuais no Centro-Oeste do Brasil por meio da concepção e apresentação de exposições simultâneas, de arte contemporânea e moderna de distintas escalas, realização de residências artísticas, além de ações diversas de caráter educativo.
Situada em uma ampla chácara com mais de 1600 metros quadrados de área construída e um generoso jardim, a Cerrado Cultural é um desdobramento do trabalho realizado pela Cerrado Galeria, sediada em Goiânia, que nasceu para divulgar, fomentar, promover diálogos e dar visibilidade à arte contemporânea e moderna produzida na região central do país, contribuindo para o cenário cultural e formando público.
SERVIÇO
Siron Franco – Observando o mundo desde o centro do Brasil
Curadoria de Agnaldo Farias
Abertura: 13 de agosto, das 18h às 21h
Período expositivo: 13 de agosto a 04 de outubro
Cerrado Cultural | Brasília: SHIS QI 05 – Chácara 10, Lago Sul