Quando o cinema se supera e produz filmes pelos quais ninguém estava esperando, ganhamos todos. Ganhamos os críticos, que ao menos por algum tempo não somos forçados a tornar às mesmas queixas nunca atendidas; ganha o mercado, que se renova e atinge novos públicos; e ganha ele, o distinto público, que se abre para novas perspectivas. Em ganhando tanta gente, sendo bastante otimista, acaba se favorecendo a sociedade como um todo, uma vez que demandas inéditas vêm a lume, mundos nunca antes imaginados passam a ser conhecidos e pessoas que, tenha a certeza, existem na esfera do real, mas jamais tiveram a oportunidade de se manifestar, se fazem ouvir. Sobretudo no Brasil, pródigo em reproduzir modinhas pseudoartísticas ou repisar temas sem dúvida importantes, como os que se espraiam sobre diversos aspectos da ignominiosa ditadura militar que sequestrou os sonhos de toda uma nação por mais de duas décadas, mas que têm de ceder espaço justamente ao sonho, à fantasia, à loucura, por que não? A arte se presta exatamente a esse papel, resgatar no homem seu lado obscuro, iluminando-o e o fazendo tão necessário a si e aos outros que renuncia a sua natureza meramente lúdica e torna-se cura