Visita de Lula à Favela do Moinho foi articulada com ONG ligada a liderança do PCC, segundo MP

Entidade recebeu ministro Márcio Macêdo antes da ida do presidente e de Janja; sede da associação já foi usada para armazenar drogas, diz investigação

Uma visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e da primeira-dama Janja da Silva à Favela do Moinho, no centro de São Paulo, foi articulada por meio de reuniões com uma ONG presidida por uma mulher ligada a um dos líderes do PCC, segundo documentos obtidos e citados por fontes do Ministério Público de São Paulo (MPSP).

Associação da Comunidade do Moinho, presidida por Alessandra Moja Cunha, irmã do traficante Leonardo Monteiro Moja, o “Léo do Moinho”, foi o canal utilizado para viabilizar a visita. O criminoso é apontado como um dos antigos chefes do tráfico na região e foi preso em agosto de 2024 na operação Salus et Dignitas.

Segundo o MPSP, a favela é controlada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) e o acesso costuma ser restrito a não moradores. Em agosto de 2023, a Polícia Civil apreendeu drogas em operação no número 20 da Rua Doutor Elias Chaves — mesmo endereço da associação e também da agenda do ministro Márcio Macêdo (PT), que esteve no local dois dias antes da visita presidencial.

Lula anunciou projeto de realocação para as famílias

Durante o evento, Lula e Janja posaram para fotos com representantes da associação e anunciaram um acordo para realocar cerca de 900 famílias da comunidade. O objetivo é transformar o terreno, que pertence à União, em um parque público.

A visita, contudo, levantou questionamentos após vir à tona o histórico da associação. Alessandra Moja Cunha já foi condenada por homicídio e cumpriu parte da pena em regime fechado.

O governo federal afirma que a reunião do ministro Márcio Macêdo com a ONG teve como pauta única a solução habitacional para os moradores, e que “o diálogo com lideranças comunitárias é parte fundamental da atuação de qualquer governo comprometido com inclusão social”.

Pressão sobre Márcio Macêdo

Macêdo, que comanda a Secretaria-Geral da Presidência, é responsável pela articulação com movimentos sociais. O ministro está sob pressão interna desde o início do ano e chegou a ser cogitado para substituição em uma reforma ministerial, com o nome do deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP) circulando como possível sucessor.

O relacionamento próximo de Macêdo com Lula — é o único ministro que já passou férias com o presidente — pode, no entanto, garantir sua permanência no governo.