Brasília se despede de Sigmaringa Seixas, o homem que conciliava ideais e afetos

Na manhã em que Brasília amanheceu de luto, um cortejo silencioso percorreu o Campo da Esperança. Não era apenas um adeus — era a despedida de um homem que fez da política uma ponte e da justiça, sua casa.

Na tarde de 26 de dezembro, uma comoção silenciosa pairou sobre o Campo da Esperança da Asa Sul, em Brasília. Ali, amigos, familiares e autoridades se reuniram para dar adeus a Luiz Carlos Sigmaringa Seixas, advogado, ex-deputado federal e figura essencial na redemocratização do Brasil. Ele faleceu no dia de Natal, em São Paulo, após complicações de um transplante de medula em decorrência de um câncer. Tinha 74 anos.

Com um legado político de rara integridade, Sigmaringa foi lembrado não apenas por seus feitos institucionais, mas por sua humanidade. Entre os presentes no velório, o governador Rodrigo Rollemberg, o presidente do STF Dias Toffoli, e diversas outras figuras que conviveram com ele ao longo de sua trajetória, compartilharam memórias de um homem que preferia dialogar a confrontar.

“Sigmaringa foi sempre um conciliador e um construtor de pontes. Ele quis criar a possibilidade de um Brasil melhor. É uma perda muito triste, muito sentida”, afirmou Toffoli, visivelmente emocionado. Os dois jogavam futebol juntos. Eram amigos além da política.

Valmir Campelo, ex-ministro do TCU e companheiro de bancada constituinte, destacou a ausência que Sig deixa em um grupo cada vez mais raro: o de homens públicos guiados pela decência. “Apesar de termos sido adversários, de partidos diferentes, sempre fomos amigos. Jogávamos futebol juntos. A amizade sempre prevaleceu”, disse.

Jofran Frejat, também colega na Constituinte, lembrou da parceria na luta pela autonomia do Distrito Federal. “Sempre procurando uma solução, conversando. Não guardava ódio, não tinha raiva. Mas ficou me devendo um vinho… ele vai tomar no céu”, brincou, entre sorrisos e lágrimas.

Ibaneis Rocha, governador eleito do DF, resumiu o sentimento coletivo: “Perdemos um jovem, porque Sig tinha um espírito jovem. Neste momento, não tem esquerda, não tem direita. Não tem PT, nem MDB. Estamos perdendo um homem público da mais alta relevância”.

Entre juristas, políticos e amigos, uma constante se repetia: Sigmaringa era um exemplo. Um democrata em toda extensão da palavra. Um homem que recusou a indicação ao STF por humildade, mas que, segundo Marco Aurélio Mello, teria prestado um serviço inestimável à Corte.

No final da tarde, sob o céu de Brasília, seu corpo foi sepultado. Mas o que fica é a memória viva de um homem que, em tempos de polarização, escolheu o caminho do respeito e da conciliação. Luiz Carlos Sigmaringa Seixas não foi apenas um político. Foi um artífice da democracia, um amigo fiel, um homem de paixões serenas e ideais firmes.

E isso, a história jamais enterra.