Estudo revela que a pandemia agravou o cenário entre os jovens e freou décadas de avanços
O Brasil, apesar dos avanços em diversas áreas sociais, continua estagnado em um dos seus maiores desafios estruturais: o analfabetismo funcional. De acordo com o novo Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgado nesta quarta-feira, 29% dos brasileiros entre 15 e 64 anos não conseguem compreender plenamente textos simples, realizar cálculos básicos ou utilizar essas habilidades de forma eficaz no cotidiano.
A pesquisa, realizada pela Ação Educativa e pela consultoria Conhecimento Social, em parceria com Fundação Itaú, Fundação Roberto Marinho, Instituto Unibanco, Unesco e Unicef, acendeu um alerta vermelho no meio educacional e empresarial.
A cicatriz da pandemia na educação
Um dos dados que mais chamam atenção é o impacto da pandemia de Covid-19 sobre os jovens: o analfabetismo funcional entre pessoas de 15 a 29 anos subiu de 14% em 2018 para 16% em 2024, desfazendo parte do progresso conquistado nas últimas décadas.
Segundo Ana Lima, economista e coordenadora do estudo, a interrupção de atividades presenciais — não apenas nas escolas, mas também em espaços de convivência social e cultural — prejudicou severamente o processo de letramento. “Fenômenos desse tipo costumam evoluir lentamente. Não esperávamos revoluções, mas o freio imposto pela pandemia foi mais forte do que imaginávamos”, destaca Lima.
Um risco para a produtividade e a inovação
Em um mundo cada vez mais orientado por dados, tecnologia e habilidades cognitivas avançadas, a estagnação no letramento funcional representa uma ameaça silenciosa à capacidade do Brasil de competir globalmente. A baixa qualificação impacta diretamente a produtividade do trabalho, limita o acesso a melhores oportunidades de emprego e restringe o potencial de inovação.
Para o setor privado, os dados funcionam como um chamado à ação: o investimento em educação corporativa, treinamentos internos e programas de alfabetização é hoje não apenas um compromisso social, mas uma estratégia de sobrevivência e crescimento.
O desafio da próxima década
O Inaf de 2025 mostra que o problema não é apenas educacional, mas também estrutural. Desde 2015, o percentual de analfabetos funcionais oscilou em torno de 29%, sem avanços significativos. A reversão desse cenário exige políticas públicas robustas, parcerias com o setor privado e a conscientização de que educação é — mais do que nunca — um ativo estratégico para o futuro do país.
Sem uma intervenção consistente e de longo prazo, o Brasil corre o risco de ampliar ainda mais suas desigualdades sociais e econômicas, num momento em que o capital humano é o novo petróleo da era digital.