Com visualizações milionárias, vídeos de fabricantes chineses no TikTok desafiam a autenticidade, o valor e o prestígio das marcas de luxo no Ocidente.
A guerra comercial entre EUA e China acaba de ganhar uma nova trincheira — e ela tem menos a ver com tarifas e mais com narrativas. No TikTok, dezenas de vídeos produzidos por fornecedores chineses mostram, sem rodeios, como peças supostamente idênticas às de marcas como Hermès, Louis Vuitton e Lululemon são produzidas por uma fração do preço final cobrado nas lojas ocidentais.
As gravações revelam o funcionamento de fábricas, exibem preços de produção e sugerem que muitos itens de luxo seriam, na prática, reembalagens de produtos feitos na China — um ataque direto à mística da exclusividade que sustenta o setor.
“Quando a distância entre o custo de fábrica e o preço de varejo se torna muito evidente, a confiança começa a se corroer”, alerta o consultor Fabio Becheri. “E no setor de luxo, confiança é tudo.”
O movimento digital coincide com um aumento das tarifas americanas sobre produtos chineses, chegando a 145% em alguns casos. Para especialistas, os vídeos — em sua maioria anônimos ou atribuídos a contas como LunaSourcingChina — são mais do que conteúdo espontâneo: podem ser lidos como estratégias de retaliação comercial velada, direcionadas ao consumidor americano, agora convidado a “pular o intermediário”.
O recado é direto: Por que pagar US$ 38 mil em uma bolsa quando você pode comprá-la da fábrica por US$ 1.400?
Resposta das marcas: desmentidos e cautela
Marcas citadas tentam preservar sua narrativa. A Louis Vuitton reafirma que só produz em França, Itália, Espanha e EUA. A Gucci diz operar exclusivamente na Itália. A Lululemon, embora produza parte de seus itens na China, nega qualquer vínculo com as fábricas dos vídeos virais.
Mas o estrago à percepção de valor já está em curso.
O que está em jogo
Essa nova frente digital da guerra comercial não impacta apenas a geopolítica. Ela atinge o pilar simbólico do luxo: a autenticidade percebida. E coloca o setor diante de um paradoxo inédito: Como sustentar margens de exclusividade em um mundo onde a origem já não é segredo, e onde qualquer smartphone pode desmascarar o backstage?
O luxo agora enfrenta seu maior concorrente: a transparência viral.
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