Revista britânica aponta Alexandre de Moraes como símbolo da centralização judicial e recomenda que Supremo adote postura de moderação
A revista britânica The Economist, uma das mais respeitadas publicações internacionais de análise política e econômica, publicou nesta quarta-feira (16/4) uma reportagem contundente sobre o sistema democrático brasileiro, com foco na atuação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo a publicação, o magistrado personifica o que classificou como uma “concentração excessiva de poder nas mãos do Judiciário”, fenômeno que, segundo a análise, representa um dos principais desafios institucionais do Brasil.
De acordo com a Economist, a ascensão do STF ao protagonismo político e institucional do país ocorreu à medida que o Executivo perdeu legitimidade e o Congresso se viu mergulhado em escândalos e impasses. Desde o julgamento do mensalão, em 2012, a Corte teria adotado um papel cada vez mais ativo — o que, para a publicação, levou o Supremo a atuar, na prática, como legislador informal.
“O STF ganhou influência e prestígio inexoráveis. Mas o custo disso é que ele passou a tomar decisões que, em outras democracias, seriam de responsabilidade de representantes eleitos”, afirma o texto.
A reportagem dedica atenção especial à atuação de Alexandre de Moraes, responsável por conduzir investigações contra Jair Bolsonaro e por determinações de censura ou suspensão de contas nas redes sociais, sobretudo na plataforma X (ex-Twitter), pertencente a Elon Musk. A Economist reconhece que o STF atua dentro da legalidade, mas alerta para os riscos de um Poder Judiciário que opera sem contrapesos efetivos.
Segundo a revista, decisões monocráticas — proferidas individualmente por um único ministro — estão sendo usadas com frequência para temas sensíveis e de ampla repercussão, sem transparência suficiente ou participação dos demais poderes.
“Isso cria três perigos: a piora da qualidade das decisões do tribunal; a perda de apoio público (apenas 12% da população avalia bem o STF, ante 31% em 2022); e o risco de que o poder do tribunal seja usado contra a liberdade, em vez de em sua defesa”, analisa a reportagem.
A matéria também critica o desenho institucional da Constituição de 1988, que permite que partidos, sindicatos e entidades levem casos diretamente ao STF, sem passar pelas instâncias inferiores — o que, segundo a publicação, transforma o Supremo em um órgão de última e, muitas vezes, primeira instância.
⚖️ Moderação como caminho
A conclusão da análise é direta: o STF deve “exercer moderação” e reconsiderar o grau de sua interferência nos assuntos políticos. A revista não ignora os ataques antidemocráticos e as ameaças que o Judiciário enfrentou nos últimos anos, mas reforça que o excesso de poder concentrado também pode ser prejudicial à própria democracia.
A crítica da Economist ecoa um debate cada vez mais presente no Brasil: até que ponto a força do Judiciário garante estabilidade — e em que momento ela começa a comprometer a legitimidade democrática?