O Censo Escolar 2024, divulgado nesta quarta-feira (9/4) pelo Inep, lança luz sobre uma realidade inquietante da educação básica no Brasil: quase metade dos professores das redes estaduais (49%) está em situação de contrato temporário.
Não é apenas um dado. É um alerta.
Num sistema que precisa de estabilidade, continuidade e vínculo para florescer, o número de docentes com vínculos frágeis expõe um problema estrutural que compromete a qualidade do ensino — e o futuro de milhões de estudantes.
🔍 Números que preocupam
Nas escolas estaduais, os dados mostram:
• 49% dos professores têm contrato temporário
• 49,1% são efetivos (concursados ou estáveis)
• 0,2% atuam como terceirizados
• 1,8% em regime CLT
Nas redes municipais, os números são um pouco mais positivos:
• 62% são efetivos
• 35,4% temporários
• 0,7% terceirizados
• 1,9% CLT
Já nas escolas federais, onde a estabilidade é regra:
• 86,2% são efetivos
• 13% temporários
• Apenas 2% atuam fora desses modelos
A conclusão é clara: quanto mais próximo do nível federal, maior o grau de estabilidade docente. Quanto mais local a gestão, maior a precarização.
🧑🏫 O peso do improviso na sala de aula
Para Natália Fregonesi, coordenadora de Políticas Educacionais do Todos Pela Educação, o alto índice de temporários compromete diretamente a qualidade do ensino:
“Processos seletivos mais frágeis e vínculos mais instáveis afetam as condições de trabalho e a permanência dos docentes. Isso impacta a aprendizagem e o vínculo com os alunos.”
A rotatividade prejudica não apenas o planejamento pedagógico, mas a construção de relações fundamentais para o desenvolvimento emocional e acadêmico dos estudantes. Uma escola que não retém seus professores é uma escola que perde memória, continuidade e identidade.
🎓 Formação docente: entre a estagnação e a desarticulação
Outro dado que chama atenção é a estagnação na formação docente. Em 2014, 87,2% dos professores tinham graduação. Dez anos depois, esse índice subiu timidamente para 87,5%.
Pior: mais de 295 mil professores ainda atuam com formação apenas no ensino fundamental ou médio. Em um universo de 2,37 milhões de profissionais, esse número é expressivo.
E mesmo entre os graduados, um problema silencioso se impõe: muitos lecionam fora da área em que foram formados.
“Há professores de Matemática dando aula de Física, ou formados em Biologia ensinando Química. É uma desconexão grave, que compromete a qualidade da educação desde a base”, afirma Fregonesi.
⚠️ O retrato de uma urgência nacional
Mais do que números, o Censo 2024 escancara uma realidade que se reflete diariamente nas salas de aula: a precarização da carreira docente, a falta de políticas públicas consistentes de valorização e a necessidade de reformular o modelo de contratação e formação de professores no Brasil.
O país não avançará de fato enquanto a sala de aula continuar sendo espaço de improviso, enquanto quem educa não tiver a dignidade e a estrutura para exercer seu papel com excelência.
📌 Sem professor valorizado, não há futuro possível.