Alterar a cor dos olhos: compreenda a polêmica ceratopigmentação

Descubra sobre o método controverso, proibido no Brasil, que busca substituir as lentes de contato coloridas

Hoje, Iris mudará a cor dos olhos. Aos 40 anos, engenheira, ela está ansiosa, quase tremendo. Com uma voz suave que mal se eleva acima do burburinho de uma sala de espera lotada nas proximidades, ela explica seu amor pelas artes cosméticas, que é evidente desde o momento em que é vista, mas também pela palpável empolgação com o fato de que, em minutos, um laser irá perfurar um túnel redondo em sua córnea e será preenchido com pigmento azul. Tudo isso demora 20 minutos e custa 12 mil dólares. “Estou buscando um tipo de cor semelhante a um husky do Alasca”, diz. Ela quer que o olhar seja visível à distância.

A ceratopigmentação é uma técnica que promove uma mudança permanente na cor dos olhos, já praticada na Europa por pelo menos uma década e agora ganhando popularidade nos Estados Unidos. Embora disponível em apenas algumas clínicas no país, a metade delas está situada na área metropolitana de Nova York.

A clínica Kerato, localizada no 8º andar de um prédio de escritórios no centro da cidade, vive movimentada até às 10h, com pacientes que buscam uma nova cor de olhos e outros submetendo-se a tratamentos a laser. No entanto, uma hora antes da agitação matinal, encontrei-me apenas com Alexander Movshovich, o primeiro médico a introduzir a ceratopigmentação (KTP) na América. Além de oftalmologista, Movshovich é também um fotógrafo.

Originário da Rússia, Movshovich imigrou para os Estados Unidos há aproximadamente quatro décadas. Após passar pela Universidade de Cornell, onde concluiu uma residência em oftalmologia e um estágio em doenças e cirurgias vitreorretinianas, ele se especializou em cirurgia retiniana. Após três décadas de pesquisa, sua atenção voltou-se para algo novo: a ceratopigmentação. Foi através de um amigo, o cirurgião retiniano Francis Ferrari, que ele se interessou pela técnica e, em 2019, inaugurou a Kerato.

Métodos para alterar a cor dos olhos não são recentes. Até recentemente, a mudança de cor ocular podia ser alcançada de maneiras imperfeitas. As lentes de contato coloridas, presentes desde os primórdios de Hollywood, eram consideradas a opção mais segura, com o aval da Academia Americana de Oftalmologia (AAO).

Os implantes de íris, próteses de silicone finas colocadas cirurgicamente sobre uma íris existente, são menos recomendados pela AAO devido aos riscos, como visão reduzida, cataratas, lesões na íris e córnea, e até mesmo glaucoma. Esses implantes ganharam notoriedade quando Tiny Cottle, esposa do rapper T.I., viajou para a Tunísia em 2014 para realizar implantes BrightOcular. No entanto, a AAO desaconselhou fortemente o procedimento, alertando para os seus perigos.

A despigmentação a laser é outra opção, onde um feixe de laser queima o pigmento natural da íris, clareando-a, mas oferece pouca personalização. A Stroma Medical é uma das defensoras dessa técnica, prevendo uma receita anual de cerca de US$ 3 bilhões com seu laser proprietário, que promete transformar olhos castanhos em azuis. No entanto, seu sistema é um dispositivo em investigação e ainda não recebeu aprovação da FDA ou da Anvisa.

Mesmo a ceratopigmentação (KTP) não tem essa aprovação regulatória. A FDA declarou que não tem conhecimento de nenhum dispositivo médico aprovado exclusivamente para mudar permanentemente a cor dos olhos de uma pessoa. Médicos como Ferrari e Jorge Alió praticam a KTP há mais de uma década, inicialmente para fins terapêuticos antes de adotá-la para fins estéticos. Alió, um cirurgião espanhol, foi pioneiro nesse procedimento, começando por casos terapêuticos e depois estéticos.

Os estudos experimentais em animais e pacientes, conduzidos pelo Dr. Alió e sua equipe por aproximadamente 11 anos, mostraram alguns resultados. Publicados em revistas científicas, esses estudos revelam uma taxa de complicação de cerca de 12%, principalmente relacionada à sensibilidade à luz e à alteração de cor. Entretanto, esses estudos ainda não atingiram o marco de uma década para avaliar os efeitos a longo prazo da ceratopigmentação.