Sintomas silenciosos: os 8 sinais que podem indicar lipedema, doença ainda pouco diagnosticada

Comum entre mulheres e frequentemente confundido com obesidade ou celulite, o lipedema apresenta características próprias que ajudam no reconhecimento precoce e evitam tratamentos inadequados

Sensação de peso nas pernas, hematomas frequentes e inchaço que não desaparece. Para muitas mulheres, esses sintomas fazem parte da rotina e são atribuídos ao excesso de peso, má circulação ou simplesmente ao cansaço. Mas podem ser, na verdade, manifestações de uma doença crônica, progressiva e ainda pouco conhecida: o lipedema.

Reconhecida como enfermidade pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apenas em 2019, a condição atinge até 12% das mulheres brasileiras, de acordo com a Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV). Mesmo assim, segue frequentemente subdiagnosticada e mal interpretada — tanto por pacientes quanto por profissionais da saúde.

O que é o lipedema?

Trata-se de uma doença inflamatória que provoca o acúmulo desproporcional e doloroso de gordura, principalmente nas pernas, coxas, quadris e, em alguns casos, nos braços. As mãos e os pés, por outro lado, costumam ser poupados, o que ajuda a diferenciar o lipedema de outras condições, como linfedema ou obesidade.

“O problema é que, por se manifestar com sintomas sutis e visíveis apenas em estágios mais avançados, o lipedema é facilmente confundido com questões estéticas ou de má alimentação. E isso leva a diagnósticos errados e tratamentos ineficazes”, explica a fisioterapeuta Dra. Mariana Milazzotto, mestre em Ciências Médicas e referência no tratamento clínico da doença.

Os 8 principais sinais de alerta, segundo especialistas

A Dra. Mariana Milazzotto elenca os sintomas mais frequentes que podem ajudar a identificar o lipedema em estágios iniciais:

  1. Sensação de peso nas pernas: muitas pacientes relatam a sensação de “pernas carregadas”, como se usassem tornozeleiras invisíveis o tempo todo.
  2. Dor e hipersensibilidade: a gordura afetada é dolorosa ao toque, o que compromete o sono e dificulta tarefas rotineiras.
  3. Hematomas frequentes: é comum surgirem manchas roxas após pequenos traumas, ou até mesmo sem causa aparente.
  4. Inchaço e edema persistente: o inchaço varia ao longo do dia e costuma se intensificar após longos períodos em pé.
  5. Pele irregular e nódulos palpáveis: a textura da pele se torna granulada, com pequenos caroços visíveis ou perceptíveis ao toque.
  6. Pés e mãos preservados: as extremidades não são afetadas, o que gera uma transição abrupta entre áreas inchadas e normais.
  7. Piora em fases hormonais: puberdade, gravidez, uso de anticoncepcionais e menopausa costumam agravar os sintomas, o que evidencia o envolvimento hormonal.
  8. Desproporção corporal resistente à dieta e exercícios: mesmo com reeducação alimentar e prática de atividades físicas, a gordura nas regiões afetadas não responde como o restante do corpo.

Diagnóstico é clínico e ainda depende de escuta qualificada

Ainda não há um exame específico para diagnosticar o lipedema. O processo passa por uma avaliação clínica criteriosa, baseada na análise dos sintomas e na exclusão de outras doenças. Por isso, é fundamental buscar profissionais com formação específica na área.

“Reconhecer os sinais precocemente evita que as pacientes sejam submetidas a tratamentos equivocados, como dietas restritivas ou cirurgias desnecessárias que não resolvem o problema e ainda aumentam o sofrimento”, afirma a Dra. Mariana.

Subdiagnóstico ainda é a regra

Segundo dados da Sociedade Internacional de Linfologia (ISL), mais de 80% das mulheres com lipedema não sabem que têm a doença. Muitas percorrem um longo caminho entre diferentes especialistas — incluindo nutricionistas, endocrinologistas e cirurgiões — antes de receber o diagnóstico correto.

“Essa jornada prolongada, além de frustrante, pode levar a impactos emocionais severos e à piora da condição clínica, que é progressiva”, reforça a fisioterapeuta.

Sobre a Dra. Mariana Milazzotto

Fisioterapeuta com quase 20 anos de atuação, mestre em Ciências Médicas e especialista no tratamento clínico do lipedema. Criadora da Jornada Desvendando o Lipedema, programa que forma fisioterapeutas e terapeutas corporais no atendimento a mulheres com diagnóstico confirmado ou suspeita da doença. É referência no Brasil por sua abordagem humanizada e baseada em evidências científicas.