Setembro Amarelo – 5 fatores de risco que devemos estar atentos

Estima-se que grande parte dos casos de suicídio poderiam ter sido evitados, já que estariam ligados essencialmente ao sofrimento psíquico intenso ou às doenças mentais vividas em desamparo

Há 12 anos o Setembro Amarelo vem sendo marcado pelo amplo trabalho de prevenção ao suicídio e conscientização dos cuidados com a saúde mental. A divulgação de informações ajuda muitas pessoas a identificarem pistas que servem de alerta para buscar ajuda.

Com o lema “A vida é a melhor escolha!”, o Setembro Amarelo levanta discussões fundamentais na sociedade, alertando  inclusive para o papel de situações traumáticas não resolvidas que podem levar essas pessoas a uma dor tão intensa que passem a se perceber sem saída.

“ O sofrimento psíquico, seja por situações traumáticas conscientes, não conscientes ou por diferentes tipos de adoecimento mental pode atingir níveis intoleráveis. A pessoa que comete suicídio não quer acabar com a própria vida. Ela quer acabar com a dor. Por isso, o cuidado com as emoções e a saúde mental é tão importante. É sobre recuperar a esperança”, explica Ediane Ribeiro, psicóloga especialista em trauma.

Se informar para aprender e ajudar o próximo é a melhor opção para lutar ativamente contra esse problema tão grave. Por isso, é muito importante que toda a sociedade tenha acesso à informação sobre o tema, facilitando a identificação de pistas quando alguém possa estar em risco e o que pode ser feito para prevenção.

A especialista ressalta que a oferta de um vínculo afetuoso por parte de amigos e familiares, com escuta ativa e sem julgamentos são muito importantes.

Assim como a divulgação de possibilidades rápidas de apoio como o oferecido pelo CVV – Centro de Valorização da Vida pelo número 188, em que voluntários treinados recebem ligações 24h e sem custo para suporte emocional, mesmo que a pessoa não tenha certeza se precisa de ajuda.

Junto com isso, são fundamentais a avaliação de um médico psiquiatra e o acompanhamento terapêutico para que o tratamento específico possa ser identificado e conduzido.

Dados mundiais e a importância da informação

Os dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019 e divulgados em 2021 são alarmantes. Todos os anos, mais pessoas morrem como resultado de suicídio do que HIV, malária ou câncer de mama – ou guerras e homicídios. 

De acordo com a última pesquisa realizada, foram registrados mais de 700 mil casos em todo o mundo, sem contar com os episódios subnotificados. 

No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano, ou seja, em média 38 pessoas por dia. 

Embora alguns países tenham colocado a prevenção do suicídio no topo de suas agendas, muitos permanecem não comprometidos. Atualmente, apenas 38 países são conhecidos por terem uma estratégia nacional de prevenção.

5 fatores de risco que devemos estar atentos 

A prevenção e diagnóstico são fortes aliados para evitar a perda dessas vidas, bem como acesso ao tratamento e informações de qualidade. 

Apesar de não ser possível prever exatamente quando há um risco concreto de suicídio, a observação de alguns fatores de risco podem auxiliar na prevenção. Visando contribuir para essa identificação, a psicóloga Ediane Ribeiro elencou 5 fatores de risco para comportamento suicida e aponta também fatores protetivos.

Confira!

  • Doenças mentais

Os quadros psíquicos estão entre os principais fatores de risco para comportamento suicida. Dentre as condições clínicas mais frequentemente associadas estão: depressão, transtorno afetivo bipolar, transtornos de personalidade, esquizofrenia e transtornos associados à dependência de álcool e outras substâncias.

  • Aspectos Sociais

Questões como isolamento social, fazer parte de populações que sofrem preconceito ou discriminação, condições sociais como ser morador de rua, estar desempregado ou aposentado também são aspectos que precisam ser observados com cuidado.

  • Traumas e experiências adversas 

Outros aspectos psicológicos não psiquiátricos que aumentam o risco são os traumas e experiências adversas, como por exemplo ter sofrido perdas recentes, ter sofrido abuso ou violência na infância, vivência frequente ou constante de sentimentos de desesperança, desespero ou desamparo. Essa última pode se apresentar em forma de humor mais deprimido, instável, agressividade, pensamentos negativos repetitivos ou pedidos de ajuda camuflados em frases como: “Não tem mais saída.”; “Vou deixar vocês em paz.”

  • Condição de saúde limitante

São identificadas taxas maiores também em pessoas com alguns tipos de doenças crônicas como câncer, HIV e doenças neurológicas.

  • Suicidabilidade

Extremamente relevante é considerar se a pessoa teve tentativas anteriores ou tem familiares que já tentaram ou cometeram suicídio.

E mais importante que tudo é pensarmos em fatores protetivos. Embora menos estudados, já sabemos que bons vínculos sociais, incluindo amigos e suporte familiar, trabalhos de autoconhecimento e autoestima, espiritualidade (independente de associada ou não a uma instituição religiosa) e acesso a serviços e cuidados de saúde mental podem contribuir muito positivamente na prevenção.

Restabelecer a conexão consigo mesmo e com os outros é fundamental para se ter segurança de que a vida é a melhor escolha!

Fonte: Ediane Ribeiro – psicóloga especialista em trauma