Quem realmente comanda o GPS do mundo — e por que o Brasil não precisa temer

Por Redação O Brasiliense

Em momentos de tensão geopolítica, como os causados por declarações inflamadas de líderes mundiais — entre eles, o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump —, surgem temores que transitam entre o real e o imaginário. Um deles voltou à pauta: os EUA poderiam, por retaliação, desligar o GPS no Brasil?

A resposta é direta: tecnicamente, sim. Mas, na prática, não faz o menor sentido — nem para eles.

O GPS tem dono?

Sim. O GPS (Global Positioning System) foi desenvolvido e é mantido pelos Estados Unidos, mais precisamente pelo Departamento de Defesa norte-americano. É um sistema com mais de 30 satélites que orbitam a Terra, emitindo sinais de rádio ultra precisos graças a relógios atômicos a bordo.

Esses sinais são captados por receptores — como o do seu smartphone — e, com base na triangulação de dados entre três ou quatro satélites, algoritmos determinam com precisão onde você está: latitude, longitude e até altitude. Aplicativos como Google Maps ou Waze, por exemplo, pegam essas coordenadas e cruzam com bancos de dados geográficos para mostrar caminhos, quarteirões e rotas.

Mas os EUA não são os únicos com esse poder

Apesar de o GPS americano ser o mais famoso (e o mais antigo, desde a década de 1970), ele não reina sozinho. Hoje o mundo conta com um verdadeiro tabuleiro de satélites globais de posicionamento:

  • Galileo – Europa
  • Glonass – Rússia
  • Beidou – China
  • IRNSS – Índia (regional)
  • QZSS – Japão (regional)

Esses sistemas também possuem cobertura global (ou regional com alta precisão) e, em muitos dispositivos modernos, trabalham em conjunto com o GPS americano. Ou seja, mesmo que um sistema tenha falhas, os outros seguem operando.

Os EUA poderiam desligar o GPS sobre o Brasil?

Em teoria, sim. O controle está nas mãos do governo americano. Mas, como explica o especialista em telecomunicações Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, isso seria um tiro no pé:

“O GPS só faz sentido com cobertura global. Interromper o sinal em uma região específica, como o Brasil, prejudicaria não só os usuários locais, mas também empresas americanas que operam por aqui, além de afetar a segurança aérea, marítima e logística mundial.”

Além disso, essa medida isolacionista seria malvista internacionalmente e colocaria em xeque a credibilidade de um sistema que, embora militar em sua essência, tornou-se infraestrutura crítica da economia global.

Em resumo

  • Sim, os EUA “mandam” no GPS tradicional.
  • Não, o Brasil (ou qualquer outro país) não depende apenas dele.
  • E não, desligar o GPS por birra política seria um desastre — e por isso, altamente improvável.

O céu está povoado por satélites e, felizmente, nenhuma nação detém o monopólio das coordenadas. Navegar é preciso, e hoje, mais do que nunca, é também plural.