Ana Maria Markovic tem 22 anos, joga futebol profissionalmente desde 2017, defende a equipe feminina do Grasshopper, um dos clubes mais tradicionais da Suíça, e, desde a temporada passada, faz parte das convocações da seleção da Croácia.
Apesar da promissora carreira que tem construído nos gramados, a atacante de 1,73 m só começou a se tornar conhecida depois que diferentes veículos da imprensa europeia começaram a chamá-la de “jogadora mais sexy do mundo”.
Depois do ‘título de mais sexy’, muitas pessoas começaram a me mandar mensagens fingindo ser treinadores. Mas eu sei exatamente o que querem de mim. Eles nunca me viram jogar futebol e só me procuraram por causa da aparência. Acho que para fazerem propostas e coisas do gênero, tinham primeiro que saber o que posso fazer em campo” – Ana Markovic, em entrevista ao The Sun.
A fama repentina se tornou um incômodo. Ainda que Markovic também atue eventualmente como modelo em campanhas publicitárias, seu foco continua sendo o esporte pelo qual se apaixonou ainda na infância e que decidiu transformar em profissão.
Nascida na Suíça e descendente de croatas, a atacante tem em Cristiano Ronaldo seu maior ídolo na modalidade: “Acho muito importante que você dê tudo de si no esporte e tenha uma boa mentalidade como ele”. Entre as mulheres, a maior inspiração da camisa 7 dos Grasshopper é a atacante suíça Ramona Bachmann, camisa 10 do Paris Saint-Germain, que já foi campeã nacional em quatro países diferentes (Suécia, Alemanha, Chelsea a França).
O caso de Markovic mostra como, apesar do maior espaço conquistado pelo futebol feminino nos últimos anos, a modalidade ainda continua sofrendo com o machismo e a consequente objetificação dos corpos das atletas.
Mesmo ainda não fazendo parte do primeiro escalão do esporte que pratica, a atacante já tem mais seguidores no Instagram (749 mil) que oito das dez primeiras colocadas na última edição do “The Best”, o prêmio entregue anualmente pela Fifa à melhor jogadora do planeta.
De todas as atletas que normalmente defendem o time feminino do Brasil, país que possui o maior hábito de consumo de redes sociais em todo o mundo, apenas Marta (2,6 milhões) tem sua rotina acompanha por mais pessoas que Markovic.
Existem algumas fotos muito feias [que me mandam]. Não sei por que uma pessoa faz algo assim. Por outro lado, também recebo às vezes algumas mensagens engraçadas. Há pessoas que escrevem que querem me servir e limpar as minhas chuteiras após o treino.” ANA MARKOVIC.
O movimento machista que transformou Markovic em estrela, ainda que a contragosto da jogadora, está longe de ser uma novidade.
Em 2001, o regulamento do Campeonato Paulista feminino dizia claramente que os uniformes dos clubes deveriam exaltar a “beleza e sensualidade” das jogadoras. Seis anos antes, a então atacante Bel, do Inter e da seleção brasileira, posou nua para a revista “Playboy.”
A goleira Hope Solo também teve de conviver durante toda sua carreira com o rótulo de musa, apesar de ter conquistado duas medalhas olímpicas de ouro (Pequim-2008 e Londres-2012) e um título mundial (2015) com a seleção norte-americana.