Nova gestão da gigante do entretenimento aposta em conteúdos direcionados à direita americana, cortes agressivos e uma controversa “lista negra” de artistas críticos a Israel
Em seus primeiros 100 dias à frente da Paramount Global, o novo CEO David Ellison, filho do bilionário Larry Ellison (fundador da Oracle), já está transformando radicalmente os rumos de um dos maiores impérios midiáticos dos EUA. A nova gestão, resultado da fusão entre a Skydance Media e a Paramount em um negócio de US$ 8,4 bilhões, tem como foco um público mais masculino, conservador e alinhado ao movimento MAGA (Make America Great Again), liderado por Donald Trump.
Além do viés ideológico, a gestão Ellison aposta na expansão agressiva, com investimentos em novas produções, cortes de pessoal e uma polêmica lista de artistas excluídos por críticas a Israel durante o recente conflito na Faixa de Gaza. A empresa também tem planos de adquirir a Warner Bros., o que ampliaria ainda mais seu domínio sobre a indústria do entretenimento.
Uma nova Paramount: mais ação, menos diversidade
Segundo reportagem da Variety, Ellison tem se apoiado no lema de Mark Zuckerberg — “agir rápido e quebrar coisas” — ao implementar mudanças velozes e profundas na cultura da Paramount. As demissões já somam quase mil, com foco em cortes de mulheres em cargos executivos, enquanto novas contratações priorizam nomes alinhados ao sionismo e ao conservadorismo político.
Entre os projetos prioritários, estão filmes com temas nacionalistas, como um western com Liam Neeson sobre um cowboy em busca da filha desaparecida. Outros investimentos incluem a volta de sagas como “Top Gun” e “Star Trek”(sem o elenco recente), e a adaptação cinematográfica do jogo Call of Duty, com forte apelo patriótico e militarista.

Cultura de cancelamento reverso?
Uma das maiores controvérsias gira em torno de uma suposta “lista negra” de artistas. A nova administração da Paramount teria decidido não trabalhar com nomes que assinaram uma carta aberta em apoio ao boicote de instituições culturais israelenses, acusadas de apoiar “genocídio e apartheid” contra os palestinos.
A lista incluiria supostos “anti-semitas”, “xenófobos” e “homofóbicos”, levantando preocupações sobre perseguição política e cerceamento da liberdade de expressão dentro da indústria audiovisual.

Contratos polêmicos e apostas altas
Apesar de alguns movimentos estratégicos, como renovar contratos com os irmãos Duffer (criadores de Stranger Things) e Will Smith, a nova gestão também sofreu perdas. A saída do showrunner Taylor Sheridan (Yellowstone) para a NBCUniversal foi vista como um baque, embora Sheridan ainda esteja envolvido na adaptação de Call of Duty.
A Paramount também anunciou um novo acordo de US$ 7,7 bilhões com a UFC, reforçando o foco em conteúdo voltado para o público masculino e conservador, com menos diversidade e apelo universal.
Uma nova era ou retrocesso?
Com a missão de tornar a nova Paramount Skydance uma rival à altura da Netflix, Apple e Amazon, David Ellison traça um caminho arriscado: mais conteúdo, mais polêmica e menos tolerância a vozes dissonantes.
A pergunta que paira sobre Hollywood é:
essa nova direção representa inovação e estratégia, ou o início de uma era de retrocesso ideológico na cultura pop global?