Argentina inicia processo para entrar no Visa Waiver Program, enquanto Brasil sofre retaliações comerciais em meio ao realinhamento geopolítico com a volta de Trump ao poder
O governo de Javier Milei anunciou nesta segunda-feira (28) que a Argentina deu início ao processo para aderir ao Visa Waiver Program (VWP), sistema que permite a entrada de cidadãos em território norte-americano sem a necessidade de visto, por até 90 dias, para fins de turismo ou negócios.
A informação foi confirmada em nota oficial após Milei receber, na Casa Rosada, a secretária de Segurança Nacional dos EUA, Kristi Noem. Segundo o comunicado, a adesão ao programa posicionaria a Argentina entre um “seleto grupo” de países com esse privilégio — atualmente composto por 42 nações, entre elas, apenas o Chile na América Latina.
“O processo exige que a Argentina atenda a altos padrões internacionais em seus procedimentos migratórios”, destacou o governo.
O anúncio representa mais um passo no estreitamento das relações entre Milei e Donald Trump, com quem o presidente argentino compartilha afinidade ideológica. Trump, que retornou à presidência dos EUA, tem reforçado alianças com governos ideologicamente alinhados, enquanto países como o Brasil enfrentam dificuldades crescentes na relação bilateral.
Brasil sob pressão tarifária
Em contraste com o movimento argentino, o Brasil foi atingido por novas tarifas de 50% sobre exportações para os EUA, anunciadas em 9 de julho e com vigência prevista para 1º de agosto. A medida foi interpretada como um gesto político do governo Trump, num momento de distanciamento diplomático com o governo Lula.
Apesar dos esforços do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) para negociar “sem contaminação política ou ideológica”, as conversas estão travadas, segundo analistas. Especialistas apontam que as decisões comerciais do governo Trump não passam por canais técnicos, mas são centralizadas no alto escalão da Casa Branca, o que dificulta o diálogo tradicional via diplomacia e comércio exterior.
“A política comercial dos EUA está cada vez mais vinculada à geopolítica”, explica Alberto Pfeifer, coordenador do Grupo de Análise de Estratégia Internacional da USP.
Interesses cruzados
A disputa por influência sobre a América do Sul — e, em especial, o interesse norte-americano nas terras raras brasileiras — também ajuda a explicar o cenário atual. Enquanto Milei sinaliza alinhamento com os interesses estratégicos dos EUA, o Brasil, com uma postura mais autônoma e crítica, como visto na recente adesão ao processo da África do Sul contra Israel, enfrenta isolamento e retaliação econômica.
A entrada da Argentina no Visa Waiver Program não é imediata: requer aprovação técnica e política por parte dos EUA, além do cumprimento de requisitos rigorosos de segurança migratória. Mas, politicamente, o movimento já sinaliza qual lado da balança Washington está inclinando — ao menos enquanto durar a atual gestão republicana.