Oficialmente, apenas uma morte foi registrada, mas segundo relatos da época, número de mortos durante carnaval de 1959 foi maior. Tudo teria começado por causa de revolta em refeitório; pesquisadora explica.
Era Carnaval de 1959 — um ano antes da inauguração de Brasília — quando um episódio de violência marcou a história da construção da capital do país. Segundo os relatos, soldados da Guarda Especial de Brasília (GEB) entraram no refeitório de uma construtora da época, a Pacheco Fernandes, e alvejaram dezenas de operários.
Oficialmente, apenas uma morte foi registrada. Porém, o episódio ficou conhecido como “Massacre da Pacheco Fernandes” ou “Massacre da GEB”, já que, de acordo com o relato daqueles que viveram aquela época, o número de mortos foi muito maior.
Tudo teria começado por causa de uma revolta dos trabalhadores. Acredita-se que uma das motivações seria a comida estragada que era servida no local, conta a professora Maria Fernanda Derntl, do departamento de teoria e história da faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB).
“A GEB foi acionada para contê-los, mas, possivelmente por conta da resistência e do local em que se encontravam, acabou recuando. Mais tarde, os policiais se dirigiram ao alojamento dos trabalhadores, onde vários foram assassinados”, diz a professora Maria Fernanda.
A pesquisadora diz que não há registros oficiais do inquérito que deveria ter sido realizado na ocasião. Segundo ela, na época, o episódio de violência foi minimizado para evitar que o tema ganhasse fôlego e acabasse atrapalhando a imagem utópica que se pretendia para Brasília.
“Não havia propriamente uma estrutura de governo, como ocorreria após a inauguração, e a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) era a empresa responsável por gerir a construção, manter a ordem social e controlar a vida naquele território em formação”, explica a professora.
No documentário “Conterrâneos Velhos de Guerra” (1992), do cineasta Vladimir Carvalho, moradores do Distrito Federal que viveram a época da construção da capital falaram sobre o episódio.
O servente de pedreiro Eronildes Guerra gravou um depoimento de três horas em meia, em 1991, aos pesquisadores do Arquivo Público do DF. Ele também foi cozinheiro nos canteiros de obra da empresa Pacheco Fernandes e afirmou ter presenciado o episódio.
“O major que era o comandante mandou a turma entrar, fazer fila, todo mundo fazer fila para apanhar. E quem corresse levava chumbo. Aí a turma, coitada, a turma ficou tudo apavorado, começaram a correr. Aí, quem não enfrentava a fila e corria, eles metiam fogo, metiam bala. Sem dó”, disse.