Durante o evento em São Paulo, nesta terça-feira (5), ex-presidente também defendeu o aborto; pré-candidato foi duramente criticado nas redes sociais
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) causou polêmica nesta terça-feira (5) ao criticar a classe média brasileira e defender o direito ao aborto. As declarações foram dadas em um evento promovido pela Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, e à Fundação Friedrich Ebert, entidade alemã ligada ao desenvolvimento ambiental.
Lula disse que a classe média brasileira é escravista. “Nós temos uma classe média que ostenta um padrão de que não tem na Europa, que não tem muitos lugares. As pessoas são mais humildes. Aqui na América Latina chamada classe média ostenta muito um padrão de vida acima do necessário. É uma pena que a gente não nasce e a gente não tem uma aula. O que é necessário para sobreviver. Tem um elemento tem um limite que pode me contentar como ser humano. Eu quero uma casa, eu quero casar, eu quero ter um carro, eu quero ter uma televisão, não precisa ter uma de cada. Uma televisão já está boa”, disse o petista.
Para o ex-presidente “na medida que você não impõe limite, você faz com que pessoas comprem um barco de quatrocentos milhões de dólares e comprem um outro para para pousar o seu helicóptero”.
Defesa do aborto
No mesmo evento, ele defendeu abertamente o direito ao aborto. Em entrevista ao jornal O TEMPO e à rádio Super no último mês, ele já havia indicado que o assunto deveria ser tratado como uma política de saúde pública.
“Aqui no Brasil, as mulheres pobres morrem tentando fazer um aborto, porque é proibido, o aborto é ilegal”, disse o ex-presidente complementando: “Aqui ela não faz porque é proibido, quando na verdade deveria ser transformado numa questão de saúde pública e todo mundo ter direito e não ter vergonha. Eu não quero ter um filho, eu vou cuidar de não ter o meu filho.”
Petistas avaliam que Lula errou em falas
Integrantes históricos do PT avaliam reservadamente que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) errou em falas recentes sobre o aborto e sobre pressão nos deputados.
Ouvidos pela reportagem, acreditam que é necessário ter muita cautela para deslizes não serem usados por adversários políticos, tendo em vista o alto nível de polarização dessas eleições.
Lula defendeu em evento da CUT (Central Única dos Trabalhadores), na segunda-feira (4), que a militância sindical procure deputados e seus familiares na casa deles para pressionar a favor de propostas que interessam ao setor em um eventual governo petista, a partir de 2023.
“Se a gente mapeasse o endereço de cada deputado e fossem 50 pessoas na casa, não é para xingar não, é para conversar com ele, com a mulher dele, com o filho dele, incomodar a tranquilidade dele, surte muito mais efeito do que fazer a manifestação em Brasília”, disse. A fala geral forte reação no Congresso.
Um amigo do petista há décadas afirma que, no entusiasmo, Lula se expressou mal. Ele diz que a intenção, ali, era exigir dos parlamentares votos alinhados à vontade daqueles que os elegeram, e não de acordo com a liberação de emendas por parte do governo.
Para esse aliado, Lula não quer estimular violência, nem exercer uma pressão indevida. A ideia seria estimular atos como as centrais fazem no aeroporto de Brasília em dias de votações importantes, quando abordam os deputados e senadores para defenderem suas ideias.
Já a fala em defesa do aborto irritou lideranças evangélicas, eleitorado que o PT pretende conquistar. Um interlocutor de Lula afirma que não está nos planos do partido rever a lei de aborto. A crítica do ex-presidente, contextualiza, seria às tentativas de impedir os abortos previstos em lei, como aconteceu com uma criança em Pernambuco. Na ocasião, servidores do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos se deslocaram até o hospital para convencer a família do contrário.
A avaliação, portanto, é de que as falas de Lula geraram ruídos em um momento em que o partido precisa construir consensos e alianças. Ainda assim, petistas devem evitar responder os ataques para não dar chance a bate-boca público e permitir o episódio crescer, em uma bola de neve.
Avalia-se entre dirigentes petistas a possibilidade de o próprio ex-presidente soltar uma nota esclarecendo as falas, mas a possibilidade ainda não foi levada a ele. (Folhapress)