Funcionário americano afirma que Brasil não apresentou propostas concretas e que tarifas entrarão em vigor em agosto sem acordo
A crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos ganhou novos contornos com a declaração de um alto funcionário da administração Trump, que afirmou nesta sexta-feira (26) que o Itamaraty minimizou as preocupações americanas em relação à situação do ex-presidente Jair Bolsonaro. Como resultado, as tarifas de 50% sobre produtos brasileiros devem entrar em vigor em 1º de agosto, sem possibilidade de adiamento.
Segundo o oficial — que falou sob condição de anonimato por não estar autorizado a discutir o tema publicamente —, o Brasil não apresentou propostas “sérias” para negociação, o que foi interpretado pela Casa Branca como falta de engajamento. “Não houve esforço real do governo brasileiro em construir uma contraproposta sólida”, disse.
Mais do que uma questão comercial, os Estados Unidos enxergam o caso como uma pauta política. A carta divulgada por Donald Trump em 9 de julho, ao anunciar as tarifas, é explícita: ele classificou como “caça às bruxas” o processo que Bolsonaro enfrenta no Brasil — onde é acusado de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, acusações que o ex-presidente nega.
Além disso, Trump acusou o Supremo Tribunal Federal (STF) de “censurar cidadãos americanos” e de prejudicar os interesses das big techs dos EUA no Brasil — uma referência às disputas envolvendo redes sociais e moderação de conteúdo.
Desde então, a gestão republicana reforçou publicamente o discurso de que Bolsonaro seria um “perseguido político” no Brasil, e que isso impactaria as relações bilaterais. “Não se trata apenas de comércio. Estamos falando de valores democráticos e liberdade de expressão”, reforçou o representante americano.
O Itamaraty ainda não se manifestou oficialmente sobre as declarações. Mas nos bastidores, diplomatas alegam que a leitura feita por Washington é “equivocada” e coloca em risco acordos econômicos importantes.