Proposta prevê mais autonomia ao arquipélago do Pacífico, com nacionalidade própria e símbolos locais, mas sem independência plena. População votará em fevereiro.
A França anunciou neste sábado (12) um acordo inédito para transformar a Nova Caledônia em um “Estado” com maior autonomia dentro da república francesa — sem, no entanto, conceder independência total ao território.
A proposta, celebrada pelo presidente Emmanuel Macron como “histórica”, ainda precisa ser aprovada pelos habitantes do arquipélago, em um referendo previsto para fevereiro de 2026.
“Este acordo nos permite sair da espiral de violência”, disse Emmanuel Tjibaou, legislador indígena Kanak que participou das negociações.
Nacionalidade caledoniana e soberania ampliada
O acordo prevê a criação de uma “nacionalidade caledoniana”, coexistindo com a nacionalidade francesa, além de maior soberania em áreas como justiça, segurança e relações internacionais.
Símbolos nacionais também poderão mudar: nome oficial, hino e bandeira poderão ser reformulados pelos próprios caledônios.
Contexto: tensão e esperança após conflitos
As tratativas ocorreram após tumultos violentos em 2023, motivados por propostas de mudança nas regras eleitorais, que grupos pró-independência consideraram discriminatórias contra os Kanaks, o povo originário do arquipélago.
O acordo foi resultado de 10 dias de intensas negociações no Palácio do Eliseu, em Paris, envolvendo representantes do governo francês e líderes dos dois lados — os que defendem a permanência na França e os que desejam a independência.
“É um compromisso real, fruto de um diálogo exigente”, afirmou o deputado Nicolas Metzdorf, que defende a união com a França.
Nova Caledônia: riqueza em níquel, economia frágil
Localizada a leste da Austrália, a Nova Caledônia é rica em níquel, metal estratégico para a indústria global, mas enfrenta crise econômica e forte dependência financeira da França.
O acordo destaca a necessidade de reabilitar e diversificar a economia local, tornando-a mais resiliente e menos subordinada à metrópole.
Colonização e cidadania
Colonizada pela França em meados do século XIX, a Nova Caledônia tornou-se território ultramarino após a Segunda Guerra Mundial. Os Kanaks receberam cidadania francesa em 1957, mas a luta por reconhecimento, autonomia e identidade cultural nunca cessou.
O novo acordo busca conciliar passado, justiça histórica e unidade política, sem romper, ao menos por enquanto, o vínculo com Paris.