Evento em Brasília marca lançamento de curso que adapta o projeto Querino para sala de aula

Formação gratuita oferece uma nova visão sobre a história brasileira, sob a perspectiva da população negra

Descobrir algo só é possível quando este “algo” nunca foi encontrado, portanto, a chegada dos portugueses ao continente americano marca o início de um processo histórico complexo, que vai muito além da narrativa oficial. É com esse olhar que, no dia 22 de abril, data que marca o chamado “Descobrimento” do Brasil, será realizado o evento de lançamento do curso “Projeto Querino na sala de aula”.

A formação é gratuita e adaptada a partir do podcast, livro e reportagens produzidas pelo projeto nos últimos anos. O objetivo é que professores de todo o Brasil possam se inspirar e realizar atividades antirracistas em sala de aula. Os materiais revisitam a história do Brasil a partir de um olhar afrocentrado, ou seja, que valoriza a participação da população afro-brasileira na formação cultural do país.

“A formação histórico-cultural do Brasil, desde o início da colonização, foi marcada por violências sistemáticas contra povos negros, incluindo o apagamento de suas culturas. O propósito deste curso é resgatar e valorizar as contribuições da população negra, reconhecendo seu papel fundamental na construção da identidade e dos processos históricos brasileiros”, argumenta Claudia Nascimento, coordenadora de Soluções Educacionais no Itaú Social.

O evento ocorrerá das 14 às 17 horas na sede da Undime Nacional, SCS Quadra 06, Bloco A, nº240, Edifício Carioca, Brasília (DF). Na ocasição, o idealizador do projeto Querino, Tiago Rogero, e Clea Ferreira, pedagoga especialista em Educação para as Relações Étnico-raciais, participarão de uma conversa sobre o curso e os desafios da abordagem antirracista nas escolas. Também estarão presentes representantes da Fundação Itaú e Undime. O evento contará com transmissão simultânea pelos canais de YouTube do Itaú Social e Conviva Educação.

“Desde 2022, quando lançamos o projeto Querino, muitos professores me contaram que já têm usado o podcast em sala de aula, mas queríamos algo que fosse pensado especificamente para esse fim, com sugestão de atividades e leituras adicionais, e por isso desenvolvemos o curso”, disse Rogero, que é jornalista.

O novo curso, voltado para professores e gestores de educação, é gratuito, certificado e está disponível na Escola Fundação Itaú. Com 30 horas de duração, a formação é autoformativa e possui 13 planos de aula baseados nos primeiros quatro episódios do podcast.

O projeto Querino também foi adaptado em formato de livro, publicado pela editora Fósforo em 2024, ampliando as reflexões abordadas no podcast a partir de novas entrevistas, informações e dados.

Educação antirracista
Há cerca de 20 anos, as leis 10.639/03 e 11.645/08 tornaram obrigatória a inclusão da história e cultura afro-brasileira e indígena no currículo escolar. Apesar da exigência, a abordagem racial deveria ser mais frequente nas escolas, segundo a percepção dos pais e responsáveis de estudantes.

De acordo com a pesquisa “Opinião das Famílias: Percepções e Contribuições para a Educação Municipal”, 93% das famílias de estudantes concordam com a inclusão de conteúdos que valorizem a diversidade racial na escola. O estudo foi realizado entre junho e agosto de 2024 pelo Instituto Datafolha a pedido da Fundação Itaú e do movimento Todos Pela Educação.

Ainda segundo o levantamento, 90% acreditam que o aumento de atividades que valorizem a diversidade racial, cultural e social contribui para o desenvolvimento de crianças e adolescentes.

O vice-presidente da Undime Bahia e Dirigente Municipal de Educação de Aratuípe/BA, Anderson Passos, ressalta que as desigualdades raciais precisam ser superadas o quanto antes e que muitas dificuldades podem ser minimizadas com a formação continuada dos profissionais da educação. “Não adianta, nós, enquanto Dirigentes Municipais de Educação, cobrarmos dos nossos professores um trabalho com a educação antirracista com equidade e que a gente consiga equiparar a aprendizagem de todos os alunos independentemente de classe social, cor e raça, sem oferecer e oportunizar a esses profissionais um processo de formação continuada”, alerta.

“A educação antirracista está presente em todas as disciplinas e as temáticas da cultura negra e dos povos indígenas devem constar em todos os componentes curriculares, pois o aluno precisa se reconhecer. Ele precisa conhecer que a história dele é repleta de reis, rainhas e heróis que, infelizmente, o currículo atual só tem representado essas figuras na imagem de pessoas brancas e é natural que os estudantes não se reconheçam”, conclui Anderson Passos que também é coordenador do Grupo de Trabalho da Undime que trata da Educação Étnico Racial.

Projeto Querino
É um projeto jornalístico brasileiro lançado como um podcast produzido pela Rádio Novelo, uma série de publicações na revista Piauí e um livro pela editora Fósforo. Inspirado no projeto “1619” do The New York Times, o projeto Querino teve apoio do Instituto Ibirapitanga e consultoria em História de Ynaê Lopes dos Santos.

Escola Fundação Itaú
A Escola da Fundação Itaú é uma plataforma que reúne mais de 130 cursos sobre educação, arte e cultura destinados a profissionais de diferentes áreas. Os conteúdos são gratuitos, certificados e com opções autoformativas ou síncronas, com aulas realizadas ao vivo. Para acessar, basta se inscrever no site: fundacaoitau.org.br/escola.

Projeto Querino na sala de aula
Duração: 30 horas
Público: profissionais da educação que lecionam na educação básica de diferentes áreas do conhecimento
Inscrição: site da Escola Fundação Itaú
Acesso: gratuito
Certificado: sim