A diretora explica seu desejo de abordar a maternidade. “Em geral, só chegamos a entender nossos pais, ou mães, quando já somos adultos
Céline Sciamma faz pequenos grandes filmes. Explicando melhor: conta histórias intimistas, envolvendo poucas personagens, geralmente mulheres. Mas são filmes de grande densidade e inteligência. Ao longo de 15 anos, a partir de Lírios d’Água, de 2007, ela cavou seu espaço no cinema francês e mundial. Lésbica assumida, faz filmes que discutem questões relevantes. Com Retrato de Uma Jovem em Chamas, venceu a Palme Queer e o prêmio de roteiro no Festival de Cannes de 2019. Seu novo filme, Pequena Mamãe, em cartaz nos cinemas, é uma joia rara.
Logo na abertura, uma garota, Nelly, despede-se das pacientes de um hospital geriátrico. Nelly vai sofrer porque acha que não se despediu corretamente da avó. Como poderia saber que ela ia morrer depois daquela visita? Céline conversa com o Estadão por Zoom. A entrevista é telefônica, através do laptop. Sem imagem. Até que ponto a história de Pequena Mamãe é pessoal, ou autobiográfica? “Possui elementos autobiográficos, e certamente é muito pessoal. Sempre fui muito ligada às avós, a casa do filme é totalmente inspirada na casa de uma delas”, conta. Na trama, Nelly, acompanhada pela mãe e pelo pai, vai à casa que pertencia à avó. Uma casa na floresta, ou mais exatamente, no bois, bosque.
Nelly ajuda a esvaziar as estantes, as gavetas, os armários. A mãe volta para a cidade, e Nelly permanece com o pai. Ela sai para um passeio no bosque. Encontra outra garota, Marion. É o nome de sua mãe. Estabelece-se uma relação complexa. De certa forma, Nelly identifica a própria mãe em Marion. “Sou sua filha, venho do caminho atrás de você”, diz. Céline tornou-se conhecida como roteirista, antes de virar diretora.