Análise de dados de 30 anos de chuvas mostra que ocorrência de precipitação extrema cresceu na região
A ocorrência de chuvas extremas está aumentando no Distrito Federal e o poder público deve investir em medidas de adaptação às mudanças climáticas, que agravam este tipo de evento climático extremo.
Hoje analista de Pesquisa do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), Alícia de Almeida Silva avaliou dados de 30 anos de chuvas no DF em seu trabalho de conclusão do curso de Geografia na UnB (Universidade de Brasília).
Em 2019, por exemplo, o volume de chuvas no DF para o mês de janeiro ficou em 73,5mm. Em 2024, foi de 389,7mm no mesmo mês. Em 2025, até o momento, são 188,6mm de chuva acumulada, segundo dados da estação meteorológica de referência.
Chuvas extremas e mudanças climáticas
Segundo o estudo, com dados de 1990 até 2019, uma chuva extrema no DF ocorre quando passa de 73,2mm de precipitação em um único dia.
“Tivemos 26 casos de chuva extrema no DF durante esse período. A maior foi em 1992, no dia 21 abril, com 131mm de precipitação”, diz Silva.
“A chuva de janeiro é normal para o DF. A diferença é que há outras coisas influenciando a intensidade dessas chuvas, principalmente, as mudanças climáticas. Este processo está alterando a temperatura dos mares, consequentemente, a dinâmica de El Niño e La Niña, por exemplo. Dessa forma, também ocorre uma influência nos sistemas atmosféricos que trazem as chuvas para a região central do Brasil”, explica ela.
A analista de pesquisa ressalta que para a avaliação da chuva no DF em três décadas foram utilizados mais de 21 mil dados da Estação Meteorológica do Sudoeste, a estação de referência para a cidade de Brasília.
“É importante que a gestão pública considere os eventos climáticos extremos nos planos e análises de gestão. Além de fazer a manutenção e limpeza dos sistemas de drenagem da água da chuva, como as bocas de lobo e sua canalização, evitando a sobrecarga. Seria interessante ter um sistema integrado de monitoramento e prevenção a estes desastres no DF, além da importância de ter momentos educativos com a população para explicar sobre áreas de risco e cuidados que as pessoas devem ter”, sugere Silva.
“Investir em adaptação é como fazer um seguro”
Diretora adjunta de Pesquisa do IPAM, Patricia Pinho comenta sobre a necessidade de adaptação das cidades para lidar com os períodos de chuvas.
A adaptação às mudanças climáticas consiste em um conjunto de estratégias locais para amenizar os possíveis prejuízos causados por eventos climáticos extremos, como deslizamentos e danos à infraestrutura, além da perda de vidas.
“Os efeitos da mudança climática são globais, mas as estratégias de como se adaptar a isso são locais e quem tem que fazer isso é o poder público local. Por isso, investir em adaptação é como fazer um seguro para reduzir danos em um momento posterior”, afirma Pinho.
“Alguns exemplos de adaptação são melhorias no escoamento de água com vegetação urbana e infraestrutura; preparação da rede elétrica e da fiação para que as pessoas não fiquem sem energia diante de uma chuva forte; sistemas de alerta e evacuação de áreas de risco em momentos de perigo; planejamento e realocação de comunidades com moradia permanente em áreas de risco, com a devida escuta a essas pessoas”, completa.
Para a diretora, o Brasil e outros países da América do Sul estão defasados quando o assunto é adaptação. As dimensões e a diversidade de ecossistemas em território nacional, além da tomada de iniciativa das gestões locais, estão entre os desafios para alavancar a agenda. Segundo Pinho, há um limite para a adaptação diante da magnitude e frequência dos eventos climáticos extremos, o que torna a ação ainda mais necessária.
“O caso da capital federal não é isolado. Temos visto extremos cada vez mais se intensificando em diversas capitais e regiões do país. Este fato demonstra o senso de urgência nesses planos de adaptação, bem como sua implementação”, conclui Pinho.