Christina Lemos e a arte de perder com elegância na televisão brasileira

Enquanto passeava pela Europa, sua cadeira no Jornal da Record ganhava nova dona. E mesmo assim, ela voltou sorrindo — com fôlego, classe e um recado para os bastidores da TV.

A televisão é feita de imagem, mas vive de timing. E quando ele falha — ou sai de férias — o cenário pode mudar num piscar de olhos. Christina Lemos sentiu isso na pele. Em pleno descanso europeu, viu Mariana Godoy assumir, brilhar e, no embalo da boa repercussão, ser efetivada como âncora do Jornal da Record.

Ao voltar, Christina não reencontrou seu posto. Mas encontrou algo mais raro: a chance de reagir com grandeza.

A emissora lhe ofereceu um “prêmio de consolação” — o comando de um bloco sobre política e economia e o JR 24 Horas, exibido à meia-noite. Menos visibilidade? Talvez. Menos importância? Não necessariamente. Ainda assim, para muitos, um gesto sutil de rebaixamento.

A jornalista, que sempre teve mais conteúdo do que pose, respondeu com a sobriedade dos clássicos:

“Vamos à nova missão, com a força, a dedicação e a energia de sempre.”

Um sopro de altivez em meio à ventania que varre o telejornalismo brasileiro, onde demissões se acumulam como manchetes de última hora. Celso Freitas, seu ex-colega de bancada, foi dispensado após 21 anos. Christina ficou — mesmo que em outro lugar.

O caso faz lembrar Maria Lydia na Gazeta, deslocada da bancada para a entrevista, até a aposentadoria. Mudança, sim. Aposentadoria moral, não.

No final, o gesto de Christina Lemos talvez diga mais do que qualquer editorial: aceitar o novo sem perder a compostura é, em si, um ato de resistência. Num tempo em que ego pesa mais que currículo, manter-se elegante pode ser o maior prestígio.