Afastamento do presidente e relação com o Banco Master colocam instituição no centro de uma das maiores ofensivas contra crimes financeiros no país
Foto: Rafael Lavenère/ BRB
O Banco de Brasília (BRB) tenta reconstruir sua narrativa em meio ao turbilhão provocado pela Operação Compliance Zero, deflagrada nesta semana pela Polícia Federal. Em resposta à crise, o conselho de administração aprovou a contratação de uma auditoria externa para acompanhar a apuração dos fatos e reforçar a imagem de compromisso com a transparência.
O gesto vem em momento delicado: na terça-feira (18), a Justiça Federal determinou o afastamento do presidente da instituição, Paulo Henrique Costa, e autorizou buscas no gabinete da presidência. As medidas fazem parte de uma investigação que aponta um suposto esquema de falsificação de ativos financeiros, com potencial de prejuízo de até R$ 12 bilhões.
Em nota à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o BRB sinalizou que continuará acompanhando os desdobramentos do caso, comprometido com práticas de governança e com a comunicação clara aos acionistas. Apesar da gravidade do cenário, o banco tenta manter o controle de danos e blindar sua reputação no mercado.
Ligação com o Banco Master acende alerta
Um dos pontos sensíveis da investigação é a relação entre o BRB e o Banco Master, principal alvo da operação e comandado por Daniel Vorcaro, preso ao tentar deixar o país. Segundo o agora ex-presidente Paulo Henrique Costa, o BRB teria identificado inconsistências documentais em operações com o Master, comunicando o caso ao Banco Central e promovendo a substituição das carteiras envolvidas.
“Revisamos a documentação, reforçamos controles e ajustamos processos para preservar a integridade do BRB”, afirmou Costa, que também declarou estar colaborando com as autoridades para o total esclarecimento dos fatos.
Esquema bilionário e prisões
A Operação Compliance Zero investiga a criação e revenda de títulos de crédito sem lastro, que teriam circulado entre instituições financeiras. Após fiscalização do Banco Central, os ativos eram trocados por novos papéis igualmente irregulares. A manobra teria inflado artificialmente as carteiras de crédito, enganando o mercado.
Além de Vorcaro, também foram presos o banqueiro Augusto Lima, ex-sócio do Master e marido da ex-ministra Flávia Peres, e o tesoureiro Alberto Félix. A ofensiva envolveu o cumprimento de sete mandados de prisão e 25 de busca e apreensão em diversos estados, com apoio do Coaf e do Banco Central.
O timing da operação chama atenção: ela veio um dia após o anúncio da venda do Banco Master a um consórcio dos Emirados Árabes Unidos, em parceria com a Fictor Holding. O negócio, que previa aporte de R$ 3 bilhões, agora pode ter o futuro comprometido.