Para Timothy Snyder, suposta estratégica russa envolve três etapas, sendo a primeira já em execução
O presidente russo Vladimir Putin tenta arquitetar um plano nefasto, que envolve levar a fome para dezenas de milhões de pessoas, como uma estratégia para vencer a guerra contra a Ucrânia. Ao menos é o que avalia o historiador Timothy Snyder, especializado em Europa, que compartilhou sua análise em seu perfil do Twitter.
“Putin se prepara para matar de fome uma grande parte do mundo como um próximo passo na guerra contra a Ucrânia”, escreveu.
Três etapas
Para Snyder, o suposto plano de Putin envolve três etapas, sendo a primeira já em execução. “O plano de Putin para a fome envolve a destruição do Estado ucraniano através do bloqueio de exportações. Dessa forma, provocar uma enorme crise de refugiados na África e Oriente Médio [que dependem dos alimentos exportados pela Ucrânia], o que irá gerar instabilidade na União Europeia”, escreveu.
A preocupação com o fornecimento de alimentos já é real. Bloqueios em portos ucranianos, como o importante porto de Odessa, e a destruição de silos agrícolas no país europeu têm causado impactos na exportação de grãos e outros alimentos.
“Finalmente, e mais terrível, o mundo com fome é o que Putin precisa para fomentar uma campanha culpando a Ucrânia por esse cenário”, acrescentou. Diante do caos e através dessa propaganda, explica Snyder, Putin exigirá os territórios ucranianos com mais veemência, bem como a retirada de sanções contra a Rússia.
Holodomor
Timothy Snyder lembra outras ocasiões da história em que a fome foi usada como ferramenta de guerra. O historiador citou uma ocasião que envolveu os mesmos atores do atual conflito. Durante a União Soviética, o governo do ditador Josef Stalin matou mais de quatro milhões de ucranianos-soviéticos no episódio que ficou conhecido como Holodomor na década de 1930.
Snyder também citou o regime nazista, que tentou desviar a produção agrícola da União Soviética, e dessa forma levar a fome para a região, durante a Segunda Guerra Mundial.
“A política de memória russa preparou o caminho para um plano de fome do século 21. Dizem aos russos que a fome de Stalin foi um acidente e que os ucranianos são nazistas. Isso faz com que roubo e bloqueio pareçam aceitáveis”, diz Snyder.