Nobel de Economia usa metáfora sci-fi no programa da CNN para criticar a timidez fiscal dos EUA e lembrar o legado keynesiano do pós-Guerra
Paul Krugman, Nobel de Economia e um dos mais conhecidos defensores do keynesianismo, recorreu a uma hipérbole sci-fi para resumir sua frustração com a falta de um novo programa de estímulos nos Estados Unidos. Em entrevista ao “Fareed Zakaria GPS” (CNN), o economista sugeriu que “uma invasão alienígena” — entendida como metáfora para um choque coordenado de gastos públicos maciços — poderia tirar a economia da recessão em 18 meses.
Segundo Krugman, o problema não é o déficit agora, mas a demanda insuficiente e a subutilização de capacidadeapós a crise. Ele evocou o paralelo histórico: os gastos da 2ª Guerra Mundial — “um gasto social negativo”, como provocou — aceleraram a saída da Grande Depressão, ao mobilizar produção, emprego e inovação em escala nacional.
A metáfora: aliens como atalho para consenso fiscal
Krugman citou um enredo clássico de ficção científica — ele lembrou “The Twilight Zone”, embora o episódio correto seja “The Architects of Fear” (1963), de The Outer Limits — em que uma falsa invasão alienígena é planejada para unir a humanidade diante de um inimigo comum.
A ideia, no contexto econômico, seria substituir a paralisia política por um esforço coordenado de investimento: infraestrutura, tecnologia, defesa civil, o que reaquece a demanda e reduz o desemprego. “E, se depois descobríssemos que foi um erro e não há aliens, sairíamos dessa melhor”, ironizou. Ao lado, Ken Rogoff (Harvard) entrou na brincadeira: “Precisaríamos de Orson Welles?”.
O que está por trás da piada
- Hiato do produto e desemprego elevado: com a atividade fraca, multiplicadores fiscais tendem a ser mais altos.
- Investimento público como ponte: obras e compras governamentais reativam cadeias produtivas, formação de capital e renda disponível.
- Juro baixo não basta: mesmo com Fed mantendo a taxa próxima de zero, política monetária tem alcance limitado quando a expectativa de demanda é fraca.
Contexto: estímulos tímidos e juro no piso
Krugman reagia ao fato de o Federal Reserve manter juros entre 0% e 0,25% e não anunciar nova rodada de afrouxamento na ocasião, enquanto o Congresso relutava em aprovar mais gasto fiscal. Para o economista, a inação custa mais caro: crescimento anêmico, salários deprimidos e perda de capital humano com o desemprego prolongado.
Por que importa agora
A metáfora dos “aliens” segue atual: em períodos de choques negativos, demanda pública pode substituir a privadaaté que a confiança e o investimento retornem. O recado de Krugman, por trás do humor, é político e macroeconômico: sem coordenação e ambição fiscal, a normalização demora — e o custo social aumenta.