Silas Vaz, morador da periferia do DF e beneficiário do auxílio na pandemia, aparece como comprador de jatinhos ligados a ONG investigada por fraudes com dinheiro público e emendas parlamentares
Um secretário da Conafer, que recebeu auxílio emergencial durante a pandemia, virou “dono” de duas aeronaves avaliadas em mais de R$ 3 milhões. Os negócios envolvem uma rede de entidades investigadas por descontos ilegais em aposentadorias do INSS, além de uso suspeito de emendas parlamentares.
Silas da Costa Vaz, de 42 anos, vive em uma casa simples no Recanto das Emas, uma das regiões com menor renda per capita do Distrito Federal. Mesmo assim, ele aparece em registros oficiais como comprador de um Beech Aircraft 58P e de um Cessna 172RG, apesar de afirmar que nunca adquiriu avião algum.
Os documentos mostram que as aeronaves foram adquiridas de Vinícius Ramos da Cruz, presidente do Instituto Terra e Trabalho (ITT) — uma ONG ligada à própria Conafer e abastecida com recursos de emendas parlamentares.
Um dos aviões foi comprado por R$ 2,5 milhões em junho de 2025, apenas cinco meses após ter sido adquirido por R$ 1 milhão. A supervalorização de 150% levanta suspeitas de fraude e lavagem de dinheiro.
O outro avião, o Cessna, tem origem ainda mais controversa. Foi comprado pelo deputado Euclydes Pettersen (Republicanos-MG) por R$ 320 mil em 2021. Após transações com o presidente do ITT e Silas Vaz, a aeronave chegou a ser revendida por R$ 700 mil em 2025.
Silas recebeu 16 parcelas do auxílio emergencial durante a pandemia, totalizando R$ 4.050. Agora, se vê no centro de um imbróglio envolvendo possível uso de laranjas, superfaturamento de bens e desvio de verba pública.
Em entrevista, o secretário da Conafer disse não se lembrar de ter assinado qualquer documento relacionado às transações. “Eu assino um bocado de documentos, camarada”, afirmou, insinuando ter sido usado de má-fé por terceiros.
A Conafer se eximiu de responsabilidade, alegando que o ITT é apenas uma entidade associada. Já o presidente do ITT e o deputado envolvido não responderam aos questionamentos da imprensa.