OEA critica saída do Brasil da aliança em memória do Holocausto e alerta para erro diplomático

Fernando Lottenberg, comissário da OEA, afirma que decisão do governo Lula agrava crise com Israel e enfraquece combate ao antissemitismo

A decisão do governo brasileiro de deixar a Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA) continua repercutindo negativamente na arena internacional. Nesta sexta-feira (25/7), o comissário da Organização dos Estados Americanos (OEA) para o Monitoramento e Combate ao Antissemitismo, Fernando Lottenberg, classificou a medida como “um equívoco”, especialmente em meio à crescente tensão diplomática com Israel.

“A definição de antissemitismo da IHRA representa um importante instrumento, adotado por mais de 45 países e 2 mil instituições para identificar e combater o antissemitismo”, afirmou Lottenberg.

“Críticas à atuação de Israel são legítimas, mas não devem se confundir com o compromisso histórico de lembrar o Holocausto.”

O Brasil integrava a IHRA como membro observador desde 2021, e a saída, ainda não formalizada, foi justificada pelo Itamaraty como uma correção à adesão considerada “dispensável” e feita sem debate técnico no governo anterior.

Tensão crescente com Israel

A saída da IHRA é mais um capítulo da escalada de conflitos diplomáticos entre Brasil e Israel, iniciada após o retorno de Lula à Presidência. Desde 2023, o governo brasileiro tem criticado abertamente a ofensiva israelense na Faixa de Gaza, onde já morreram mais de 50 mil pessoas, segundo dados de organizações humanitárias.

ápice da crise ocorreu em fevereiro de 2024, quando Lula comparou a ação israelense ao Holocausto, sendo declarado persona non grata por Israel. Em resposta, o presidente brasileiro retirou o embaixador do país em Tel Aviv, e o governo ainda não aprovou o nome de Gali Dagan, indicado por Israel para chefiar a missão diplomática em Brasília.

IHRA e a importância histórica

Para Lottenberg, o gesto do Brasil contrasta com sua história de acolhimento à comunidade judaica e ignora a relevância da aliança:

“Estar integrado à IHRA é demonstrar comprometimento com a cultura de paz, com a promoção da educação e com a lembrança do Holocausto.”

O Brasil tem a segunda maior comunidade judaica da América Latina, e a saída da aliança levanta preocupações sobre a mensagem simbólica transmitida nesse momento delicado.

Embora o governo brasileiro negue que a decisão tenha ligação com sua recente adesão à ação da África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça — que acusa o país de genocídio —, diplomatas e analistas apontam que os gestos sobrepostos reforçam o isolamento do Brasil em fóruns ligados à memória histórica do Holocausto e ao enfrentamento ao antissemitismo.