Governo Lula se afasta da IHRA citando adesão “dispensável” feita por Bolsonaro; decisão ocorre após entrada do Brasil em ação que acusa Israel de genocídio em Gaza
O governo brasileiro decidiu deixar a Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA), organização dedicada à preservação da memória do Holocausto e ao combate ao antissemitismo. A saída, embora ainda não formalizada, foi confirmada por fontes do Itamaraty e sinaliza um reposicionamento diplomático do Brasil sob a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Segundo o Itamaraty, a adesão do Brasil à IHRA, feita em 2021 durante o governo Bolsonaro, foi considerada “dispensável” e sem debate aprofundado. Entre os motivos apontados para o desligamento estão obrigações financeiras e políticas associadas à participação no grupo — hoje, o Brasil figura apenas como membro observador no site da entidade.
A decisão de saída ganhou ainda mais repercussão por ocorrer um dia após o Brasil formalizar apoio à ação da África do Sul na Corte Internacional de Justiça, que acusa Israel de genocídio contra palestinos na Faixa de Gaza. O governo brasileiro, no entanto, nega que as duas decisões estejam relacionadas.
Na nota que oficializa o apoio à ação, o Itamaraty critica a campanha militar israelense em Gaza, iniciada em 2023, e as operações contínuas na Cisjordânia, apontando para “devastação desproporcional” e ocupação por colonos.
“Já não há espaço para ambiguidade moral nem omissão política. A impunidade mina a legalidade internacional e compromete a credibilidade do sistema multilateral”, afirma o texto oficial.
A resposta israelense veio com dureza: o Ministério das Relações Exteriores classificou as ações do Brasil como “uma demonstração de profunda falha moral”.
A crise entre os dois países se intensifica desde fevereiro de 2024, quando Lula comparou as ações de Israel em Gaza ao Holocausto dos judeus, o que levou o governo de Tel Aviv a declará-lo persona non grata.
Com a saída da IHRA e o reposicionamento na política externa do Oriente Médio, o governo brasileiro reafirma sua crítica à atuação israelense, mesmo diante de forte desgaste diplomático com o Estado judaico e repercussão internacional crescente.
Imagem: Pablo Porciuncula