Machado de Assis psicografado na sacanagem: Reinaldo Moraes põe Brás Cubas na horizontal

Na Flip, escritor recria cena erótica com prosódia machadiana — e arranca gargalhadas com sexo oral literário

“Agora a coisa vai ficar quente, tirem as crianças da sala”, anunciou o curador Paulo Werneck, com um sorriso maroto e a certeza de que a noite prometia. Era a mesa “Os Imorais”, na 13ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), com dois convidados perfeitos para a provocação: o escritor Reinaldo Moraes, autor de O Cheirinho do Amor, e a ensaísta Eliane Robert Moraes, especialista em Sade e organizadora da Antologia da Poesia Erótica Brasileira.

O público, lotado, não se decepcionou. Entre reflexões eruditas sobre o erotismo e risadas cúmplices, o ponto alto veio quando Reinaldo, com seu humor desbocado e precisão estilística, leu um texto em que “psicografou” ninguém menos que Machado de Assis.

“Fiquei relendo Memórias Póstumas de Brás Cubas e me veio a pergunta: ‘Onde esses caras trepavam?’ Porque, vamos combinar, não existia motel no século 19”, disse, antes de dar voz à cena que Machado jamais ousaria escrever — ao menos não no papel.

Com prosódia impecável, vocabulário arcaico e ironia afiada, Reinaldo narrou uma cena de sexo oral entre Brás Cubas e Virgília, sua amante casada. O resultado foi um pastiche hilário e brilhante, que arrancou aplausos e gargalhadas da plateia.

“Os escritores, quando psicografados, sempre escrevem um pouco pior”, ironizou, logo após encarnar o Bruxo do Cosme Velho com detalhes impróprios para menores — mas absolutamente coerentes com o espírito libidinoso que escorre nas entrelinhas machadianas.

Ao lado de Eliane, que alternava erudição e picardia ao falar de sadismo e lirismo, Moraes ajudou a construir o que muitos consideraram a mesa mais divertida (e ousada) da Flip. Um encontro em que a literatura perdeu a vergonha e recuperou, sem pudores, sua carne.