Figura-chave no Vale do Silício, Thiel ganha protagonismo na nova configuração de poder da direita americana — unindo big techs, inteligência artificial e política de Estado
À sombra da corrida presidencial dos Estados Unidos, um nome ganha espaço silenciosamente nos bastidores do poder: Peter Thiel. Fundador do PayPal, investidor da Palantir e mentor de nomes como Elon Musk e JD Vance, Thiel emerge como o cérebro estratégico por trás da nova era Trump, enquanto o foco da imprensa ainda se volta a figuras como Steve Bannon.
Diferente do barulho das redes, Thiel opera na penumbra, com influência sobre os setores mais sensíveis do capitalismo digital e do Estado profundo. Suas conexões com a CIA através da Palantir e sua capacidade de movimentar decisões nas big techs colocam-no como um elo entre o poder corporativo, militar e político — algo que vai além da retórica libertária que costuma professar.
Do Vale do Silício à Casa Branca
Peter Thiel é um dos arquitetos invisíveis do Vale do Silício. Sua trajetória começa com o PayPal, passa pela máfia do Vale — grupo de fundadores que moldaram empresas como YouTube, Tesla e LinkedIn — e culmina na Palantir, empresa que fornece tecnologia de vigilância para governos e agências de segurança, como a CIA e o Pentágono.
Com uma fortuna menor do que outros magnatas da tecnologia, como Elon Musk ou Jeff Bezos, Thiel compensa com articulação e presença estratégica. Sua influência nas campanhas republicanas, especialmente ao lado de Trump e seu vice JD Vance, faz dele uma ponte entre os bilionários e a máquina estatal.
Uma filosofia sombria e influente
Formado em filosofia por Stanford, Thiel se aproxima de ideias do pensador francês René Girard e de figuras da chamada Alt-Right, como Curtis Yarvin e Nick Land. Ele defende abertamente que a liberdade individual é incompatível com a democracia moderna, chegando a questionar o voto feminino e políticas de assistência social — argumentos presentes no polêmico ensaio The Education of a Libertarian.
Essa ideologia híbrida, que mistura libertarianismo econômico com autoritarismo político, inspirou o conceito de “Dark Enlightenment” (Iluminismo das Trevas), um movimento de rejeição à modernidade democrática em favor de uma nova ordem tecnocrática e centralizada.
O verdadeiro motor por trás da onda conservadora
Ao contrário da narrativa sobre hackers russos ou manipulação de dados pela Cambridge Analytica, muitos especialistas reconhecem que o crescimento da extrema direita global foi impulsionado pelas próprias plataformas digitais. Com acesso privilegiado ao coração das big techs, Thiel usou sua influência para promover candidatos alinhados ao projeto de poder do MAGA, incluindo apoio logístico, financeiro e tecnológico.
É nesse contexto que surge JD Vance, ex-crítico de Trump e hoje vice na chapa republicana. Vance é criação política direta de Thiel, que financiou sua campanha ao Senado por Ohio e o preparou como possível herdeiro político do trumpismo.
Entre a fantasia e o autoritarismo
Curiosamente, Thiel é fascinado por J.R.R. Tolkien, autor de O Senhor dos Anéis, e batizou empresas como Palantir com nomes inspirados na obra. Essa estética fantástica, misturada à tecnologia de vigilância e controle social, dá contornos mitológicos ao projeto de poder que ele patrocina.
Mesmo se apresentando como crítico do Estado, Thiel é beneficiário direto do financiamento público, com contratos bilionários entre suas empresas e o governo dos EUA. Seu projeto, na prática, fortalece um Estado militarizado e digitalmente centralizado, sob o pretexto de segurança, eficiência e liberdade econômica.
O bilionário do Leviatã digital
A ascensão de figuras como Thiel evidencia um novo arranjo de poder: bilionários visionários, big techs, fundos trilionários como a BlackRock e uma elite política que transita entre o populismo e o autoritarismo de mercado.
Apesar do verniz ideológico, o que se desenha é um capitalismo distópico, que exige intervenção estatal constante, repressão social e tecnocracia. A performance de Thiel como outsider esconde sua real posição: uma engrenagem bem lubrificada de um sistema em mutação, cada vez mais desigual e menos democrático.