Lotus Cidade, dos irmãos Luiz e Ruy Hernandez, deve multiplicar vendas por quatro em 2022 com aposta em edifícios com pegada sustentável e fora do Plano Piloto
A arquitetura de Brasília, famosa pelo mundo em função das curvas modernistas do arquiteto Oscar Niemeyer e do urbanismo futurista de Lúcio Costa, vem ganhando novos contornos nos últimos anos.
Vide o exemplo do Lotus Corporate, um edifício empresarial com uma série de inovações na capital federal. A fachada tem um tipo vidro capaz de bloquear o calor externo e, por isso, colabora para um uso mais racional do ar-condicionado. Placas solares no teto também ajudam a reduzir a conta de luz. O estacionamento conta com um posto de abastecimento para veículos elétricos.
A poucos metros da Esplanada dos Ministérios, o condomínio é um dos primeiros de Brasília a contar com certificações de boas práticas ambientais, como a LEED. É uma novidade e tanto numa cidade acostumada aos escritórios erguidos nos anos 60 e 70, muito antes de a agenda ESG ser abraçada pelas empresas — e pela arquitetura destinada às lajes corporativas.
Por trás do empreendimento estão os irmãos Ruy, 32 anos, e Luiz Felipe Hernandez, 30, fundadores da construtora e incorporadora Lotus Cidade, uma das estrelas do mercado imobiliário do Distrito Federal.
Fundada em 2018, a Lotus Cidade prevê vendas de 3,1 bilhões de reais em 2022. A quantia é quase quatro vezes mais do realizado no ano passado: 792 milhões de reais.
A trajetória dos irmãos Hernandez no mercado imobiliário começou em 2010. Na época os dois cuidavam do family office da própria família, que é proprietária de imóveis em regiões nobres de Brasília.
Com capital próprio, os dois passaram a construir casas populares dentro do programa Minha Casa, Minha Vida em cidades satélites do Distrito Federal.
O passo seguinte foi em 2014 com a construção de prédios residenciais de classe média em Águas Claras e Samambaia, duas das regiões com volume de novos empreendimentos no Distrito Federal nos últimos anos.
A guinada para as lajes corporativas sustentáveis surgiu após a dupla vislumbrar uma carência muito particular dos negócios da capital federal.
Em função de um regramento urbanístico severo, elaborado para preservar o legado arquitetônico do Plano Piloto, Brasília passou longe do boom de novos prédios comerciais erguidos em regiões nobres de outras metrópoles brasileiras, como o entorno das avenidas Faria Lima e Berrini, em São Paulo, ou a Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
Por ali, ainda é comum empresas de grande porte que, apesar de um entusiasmo pela agenda ESG, ocupam prédios construídos há mais de 50 anos com pouca ou nenhuma preocupação sustentável — e com burocracias diversas para um retrofit.
Tudo isso pressiona a demanda por imóveis numa metrópole como Brasília, que tem mais de 3 milhões de habitantes como Brasília e tem o maior PIB per capita do Brasil.
“Há uma escassez de prédios ‘triple A’ em Brasília”, diz Ruy, numa referência ao conceito da construção civil para prédios erguidos com padrão mais elevado de acabamento e conforto.
De uns tempos para cá, no embalo da agenda ESG, o termo ‘triple A’ tem cada vez mais se confundido com o uso de técnicas construtivas mais sustentáveis. “A pegada sustentável é o que tem diferenciado nosso negócio da concorrência”, diz Luiz Felipe.
Daqui para frente, os irmãos apostam numa profusão de empreendimentos ‘triple A’ com a pegada ESG em bairros recentemente alçados à condição de queridinhos para a elite da capital federal.
Na lista estão o setor Noroeste e os arredores do Lago Sul, uma região historicamente sede de mansões convertidas em embaixadas que, de uns tempos para cá, virou um dos principais canteiros de obras de Brasília.
“O eixo da economia do Distrito Federal tende, cada vez mais, a migrar para prédios Triple A no Plano Piloto”, diz Ruy, que destaca também os investimentos da Lotus fora de Brasília.
Na carteira da empresa estão empreendimentos em bairros nobres de Miami vendidos principalmente para a grande comunidade de brasileiros expatriados na Flórida.