Expo Diversos chega a Brasília com debate sobre pluralidade e diversidade

A mostra reúne 23 obras com visitação gratuita de 25 de setembro a 27 de outubro no Anexo do Museu Nacional da República

Com a proposta de promover um debate democrático, educativo e sensível sobre a pluralidade e diversidade brasileira, a Expo Diversos abre as portas em Brasília amanhã (25), quarta-feira, no Anexo do Museu Nacional da República. Será a oportunidade de os brasilienses acessaremuma experiência imersiva e sensorial por obras que traduzem diferentes histórias, vivências e exaltam as diversidades de raça, etnia, crenças, idade, gênero e de pessoas com deficiência.

Com as obras de Nenê surreal, Negana, Xadalu Tupã jekupe, Paulo Desana, Deba Tacana, Aua Mendes, Novissimo Edgard, Subtu, skoor, Andréa Higino, Lua Cavalcante, Rose Afefé, Rafa Bqueer e Jaime Prades, a mostra chega a Brasília depois de passagens pelas cidades de São Paulo, Pindamonhangaba e Rio de Janeiro. A temporada na capital federal vai até 27 de outubro, com visitação gratuita de terça-feira a domingo, das 9h às 18h30. Com histórias que retratam as particularidades vivenciadas por artistas que atuam com diferentes realidades culturais e regionais do Brasil, a Expo Diversos é uma realização da CEC Brasil com patrocínio da Novelis – líder mundial em laminação e reciclagem de alumínio -, via Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura.

A curadora da Expo Diversos, Bianca Bernardo, apresenta a mostra como uma plataforma de discussão, de aprendizagem e de compartilhamento de experiências sobre a diversidade, a partir da arte e da pauta dos direitos humanos no Brasil. “O tema principal é a diversidade, sendo tratada a partir dos direitos humanos e da importância de legitimar os espaços de respeito, para a construção do entendimento da igualdade a partir das nossas diferenças”, diz

As obras fazem o público refletir sobre a valorização da cultura indígena, questionar o etarismo, exaltar a sabedoria ancestral, combater os preconceitos de raça, etnia e gênero, o machismo e lutar por uma sociedade mais justa e mais inclusiva. “Nós primamos pela escolha de artistas que tenham na sua vivência a diversidade na prática, para que possamos contar essas histórias diversas e apresentar para o público um panorama sobre as diversidades através da arte”, destaca a também curadora da Expo Diversos, Vera Nunes.

Casa Diversa – As 23 obras retratadas na mostra se apresentam em diferentes linguagens, como pinturas, fotografias, esculturas, bordados e instalações, que estarão dispostas em um percurso multissensorial com um conceito expográfico de Casa Diversa. O espaço remete a um ambiente domiciliar acolhedor e acessível, trazendo elementos como paredes, plantas, pedras, água e luzes, com o objetivo de proporcionar uma experiência ainda mais imersiva aos visitantes.

“A Expo Diversos não captura a totalidade das perspectivas sobre diversidade, dada a singularidade intrínseca à condição humana, mas oferece um recorte cuidadoso e modesto de memórias e narrativas de indivíduos diversos do Brasil, fomentando os direitos humanos e reconhecendo a pluralidade de visões que se traduzem em obras artísticas e diálogos enriquecedores”, ressalta Kaline Vânia, diretora da CEC Brasil.

No passado, a Novelis apoiou, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, o Livro Diversos, que também trouxe uma reflexão sobre diversidade e inspirou a exposição. “Está entre os nossos compromissos investir e incentivar iniciativas que celebram a diversidade em suas formas mais autênticas e expressivas. Ficamos felizes em ver que as temáticas abordadas no livro expandiram suas formas e inspiraram a construção desta exposição, que nos convida a ampliar as perspectivas e construir pontes entre as diferenças. Em direção ao seu propósito, de criar um mundo sustentável, a Novelis vai muito além da transformação do alumínio em novas possibilidades e promove, diariamente, ambientes mais diversos e equitativos. Queremos, cada vez mais, contribuir com práticas de diversidade e inclusão, dentro e fora da empresa”, afirma Eunice Lima, diretora de Comunicação e Relações Governamentais da Novelis América do Sul.

Etarismo – A contradição revelada pelo etarismo é a base de reflexão e inspiração da artista Nenê Surreal, considerada a mulher mais importante do grafitti nacional. Aos 57 anos, a artista leva para a exposição a obra Cabeçudas, com a qualquestiona o etarismo sob o ponto de vista da valorização da sabedoria ancestral nas sociedades coloniais e tradicionais. Ela aponta que tanto o conhecimento de vida como a história ancestral são vistos como inúteis ou improdutivos pelos ocidentais e questiona sobre o que nos impede de reconhecer a ancestralidade como uma fonte de poder e resistência.

Segundo a artista, a obra Cabeçudas, que tem coprodução da DJ Aline Vargas, nasceu da observação que ela fez de crianças da comunidade onde vive em Diadema. Essas crianças passaram por uma transição e começaram a amadurecer, viraram adolescentes, jovens e hoje são personagens adultas e amadurecidas com muitos conhecimentos.

“Eu me vejo nesse processo. Assim como eu, as pessoas jovens vão envelhecer e isso não significa incapacidade. Temos pessoas com mais de 50 anos fazendo coisas incríveis. A gente está em movimento, estamos ativos. Daqui a 20 anos, vamos ter pessoas com 70 anos fazendo coisas que eram feitas por jovens de 30 anos. O etarismo é muito contraditório porque escutamos as falas e os discursos que enaltecem a ancestralidade, mas nós, os griôs, não estamos sendo enaltecidos em vida. Por que não estão potencializando as pessoas que estão aqui ainda fazendo de igual para igual?”, reflete.

Corpo político – “A luta da pessoa com deficiência é muito solitária. Dentro das lutas das minorias que existem no nosso país, nós somos a mais minorizada. A gente precisa avançar muito, pois ainda estamos a passos muito miúdos porque a sociedade não adensa esta luta e a deficiência não é homogênea. É uma minoria complexa e diversa. As grandes cidades precisam de revisão total e estar reparadas para entender as nossas necessidades e diversidade”.

A afirmação é da artista e educadora Lua Cavalcante. Aleijada, sambadeira de roda e pertencente ao povo indígena Kixelô Kariri de Iguatu, no Ceará, ela se autodenomina um “corpo-artístico-político-pedagógico”, que promove reflexões sobre os territórios que o corpo com deficiência habita e opera através de sua arte. Lua participa da Expo Diversos com as obras Amuleta de Aleijeidu e Rede de Descanso e Mandinga de Aleijadu.

A artista reforça que sua grande luta é de não ser lida apenas como corpo de uma deficiência que padece. “O corpo com deficiência é sempre lido e sempre colocado como um corpo coitado, enfermo, que não é capaz, e a gente quase que não tem a possibilidade de escolher como queremos que ele seja apresentado para o mundo. A grande força dessa exposição é um incentivo a olhar esses corpos diversos para além desse lugar da deficiência. É fundamental que as pessoas vejam e se estimulem a conhecer mais. Precisamos ser vistos, celebrados, enquanto corpos possíveis e diversos e falarmos o que quisermos, estando à frente do nosso discurso”, expressa a artista.

Para garantir a acessibilidade da exposição para os visitantes, as obras poderão ser acessadas através de QR Code com áudios descritivos e placas técnicas em braille.