Diretor de “Bacurau” lança filme no Cine Brasília

Kleber Mendonça Filho conversa com o público entre duas sessões

O diretor pernambucano Kleber Mendonça Filho (“O Som ao Redor”, “Aquarius”, “Bacurau”) confirmou presença na pré-estreia neste domingo (20), no Cine Brasília, do seu novo filme, “Retratos Fantasmas”. O documentário de 91 minutos foi lançado mundialmente em Cannes, em maio, e teve primeira exibição no Brasil na noite de abertura do Festival de Gramado, em 12 de agosto passado. Serão duas sessões – 18h30 e 21h30 – com cobrança de ingresso (R$ 20 a inteira). A conversa com o premiado diretor será entre as exibições.

O filme trata de memória, de história e seus apagamentos e do esvaziamento do centro de Recife – o que vale para outras capitais brasileiras –, com cinemas sendo fechados, num fenômeno de gentrificação [segregação social e espacial em áreas urbanas], que “revela algumas verdades sobre a vida em sociedade”, diz a sinopse. Construído a partir de pesquisa em imagens de arquivo, “Retratos” foi feito ao mesmo tempo em que Bacurau era produzido e levou sete anos para ser finalizado.

“É um filme de arquivo, em que você procura muita coisa e precisa dar tempo ao tempo, dar tempo ao processo. Não tem como estabelecer uma data limite para você achar o que imagina que vai achar. Você tem de esperar as coisas acontecerem. É um filme que pediu tempo e eu fui capaz de fornecer esse tempo, o que foi muito bom para o resultado final”, explica o diretor e roteirista, nascido no Recife.

“O filme também é sobre apagamentos [da história] e uma ideia de gentrificação, mas tudo isso está relacionado à forma como o mercado e o capitalismo criam novos mecanismos de exploração comercial. É o próprio capitalismo que, depois de algum tempo, décadas no caso do Recife e de outros centros urbanos, decide que vai explorar outro sistema”, argumenta Mendonça Filho.

O longa-metragem instiga o público a pensar sobre como esse fenômeno tem relações com movimentos de especulação imobiliária e o surgimento das salas de exibição em shoppings. Também suscita perguntas sobre o que está por trás da naturalização da tendência, observada em grandes cidades.

“A ironia é que o centro do Recife é belo, tem um rio que corta a cidade, tem ruas incríveis. Mas tudo isso foi meio abandonado para que um novo sistema fosse explorado. O dinheiro, como falo no filme, migrou para zona sul [da capital pernambucana, em referência a áreas de maior IDH]”, elabora o diretor.

Lançamento nacional

Ao mesmo tempo em que é lançado na capital federal, “Retratos” abre um circuito de pré-estreias em 50 salas pelo país. São oito capitais nordestinas (Aracaju, Belém, Maceió, Recife, São Luís, Natal, João Pessoa e Teresina), mais São Paulo e interior, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Vitória, Curitiba, Porto Alegre, Brasília, Manaus, Macapá e Palmas, para citar as principais. Em Portugal, a estreia está programada para agosto. Em outubro, o filme chega à Espanha, alcançando França e Estados Unidos em novembro.

“Com a carreira que ‘Retratos Fantasmas’ vem construindo, creio que devemos submeter o filme como representante do país ao Oscar”, vislumbra a francesa Emilie Lesclaux, sócia de Mendonça na produtora independente pernambucana Cinemascópio, também produtora de “Bacurau” (prêmio do Júri no Festival de Cannes de 2019, em que Mendonça divide a direção com Juliano Dornelles).

“Retratos” conta, por exemplo, a história do cinema Veneza, no Recife. “Foi a inauguração de uma nova máquina de divulgação do cinema comercial. Não é à toa que é aberto com uma grande produção da Universal Pictures, “Aeroporto” [1970, origem de uma série baseada no romance de Arthur Hailey]. O Veneza teve uma vida útil de 28 anos. Em 1998, com o centro da cidade desvalorizado, fechou”, ilustra Mendonça.

O jornalista de formação pela Universidade Federal de Pernambuco é cauteloso ao falar de narrativas que se proclamem verdadeiras. Acredita, contudo, que a abordagem que Retratos faz das questões urbanas citadas, “senão original, talvez tenha um frescor” na medida em que ajuda a pensar sobre os porquês de um processo vitimado pela normalização. “Me incomoda que os anos de governo Temer e Bolsonaro tenham levado à uma normalização do absurdo na vida brasileira”, arremata.

Serviço

“Retratos Fantasmas”

Pré-estreia no dia 20, sessões às18h30 e 21h30

Bate-papo com o diretor Kleber Mendonça Filho entre as exibições

Ingressos a R$ 20, inteira

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